27 julho, 2009

Erotismo e Espiritualidade: o Equilíbrio Necessário

valentine%20gift%20valentines%20day%20gifts Ainda em seu início, a psicanálise de Freud foi acusada de promover a libertação do homem de seus instintos animais reprimidos, provocando com isso uma catástrofe de dimensões imprevisíveis.

Uma acusação dessa natureza leva-nos a uma constatação, no mínimo, reveladora: a pouca confiança que o ser humano deposita na moral, que é particularmente enfatizada pelos cristãos legalistas.

De fato, a psicanálise pode tornar conscientes todos os instintos animais inconscientes. Não, porém, para deixá-los soltos numa libertinagem sem freios, mas para integrá-los, harmoniosamente, na personalidade.

No entanto, mesmo que desconsiderássemos isso; sob quaisquer circunstâncias, seria sempre uma vantagem poder dominar, pelo conhecimento consciente, esses instintos.

Caso contrário, seus conteúdos reprimidos apareceriam em outro lugar ou outro momento, como um estorvo, como uma excrecência.

Isso representaria uma pedra dentro do sapato, pois tal estorvo apareceria (como de fato aparece), não em áreas secundárias; mas, precisamente, nos pontos mais nevrálgicos e vulneráveis da psiquê. Isso explica, por exemplo, o fato "daquela pessoa tão santa e piedosa" cair, de repente, no mais grosseiro pecado sexual.

Melhor, então, como aludimos, ser educado pela psicanálise.

As pessoas, quando educadas para enxergarem o lado feio e sombrio de sua natureza, aprendem também a lidar com esse lado, aceitando-o e compreendendo a sua dinâmica.

Isso fará delas seres humanos menos egoístas e menos hipócritas; o que resultará num bem, uma vez que a diminuição do egoísmo e da hipocrisia fará com que elas deixem de projetar nos outros a falta de respeito e a violência que tinham para consigo mesmas, antes de chegarem ao nível do autoconhecimento.

É a isso que, na linguagem bíblica, chamaríamos de "amar o próximo".

De qualquer forma, o fato de ainda trazermos dentro de nós "o velho Adão" redunda na realidade de que teremos sempre que lutar contra a sensualidade exacerbada.

A certeza que temos é que o erotismo sempre foi e sempre será um problema controvertido, independentemente de quaisquer leis ou princípios adotados, uma vez que pertence à natureza animal do homem.

Paradoxalmente, no entanto, esse mesmo erotismo está ligado às mais altas formas de espiritualidade (quando um homem se une sexualmente com uma mulher serão ambos "uma só carne"). Ora, essa é uma união não apenas carnal, mas também espiritual.

Logo, é preciso que haja um equilíbrio entre o erótico e o espiritual pois, somente assim, a comunhão do casal será completa e realizadora.

Se esses dois elementos (erotismo e espiritualidade) não estiverem harmônicos, haverá um dano por causa da unilateralidade e o resultado, fatalmente, será doença emocional.

Concluindo, podemos afirmar, então, que o excesso de animalidade deforma o homem espiritual enquanto que o excesso de espiritualidade cria animais doentes.

Mais uma vez, portanto, voltamos à verdade do antigo filósofo: "in medium virtus", ou seja, "a virtude está no meio".

No que tange à sexualidade, como nas outras questões da vida, essa virtude está no equilíbrio e na sensatez, razão pela qual qualquer tipo de extremismos deve ser rechaçado.

"Sede sóbrios; vigiai; porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar" (1. Pe. 5.8).

Tony Ayres

5 comentários:

  1. Prezado Tony


    Muito obrigado por mais essa aula, na qual os pressupostos do Cristianismo e da psicanálise estão tão bem inter-relacionados.

    Muitos agora vão entender que “santidade” não é negar nem jogar fora o velho Adão.

    A luz Divina, como a luz do sol, ao incidir sobre nós, mostra entre os muitos detalhes, a nossa “sombra”.
    Parabéns pelo elucidativo texto.

    Um abraço fraternal,
    Levi B. Santos

    ResponderExcluir
  2. Caro Amigo Levi:

    Coisa muito boa e gratificante na vida de todos nós é quando nos sentimos compreendidos; quando percebemos que aquilo que dizemos ou escrevemos encontra eco em outros corações.

    E isso acontece comigo, a cada vez que me deparo aqui com um comentário seu.

    Obrigado, meu amigo, por nada dizer quando o assunto não lhe diz respeito; mas também por utilizar tão bem as palavras, quando sente que o que leu merece o seu apoio.

    Fico-lhe grato pelo comentário incentivador.

    Um forte abraço!

    Em Cristo.

    ResponderExcluir
  3. Olá Tony!!
    Concordo que a virtude está no meio, no equilíbrio e na sensatez. Ainda há muito a se falar sobre a sexualidade nas igrejas, muitas ainda tratam isso como algo pecaminoso, feio e vergonhosos, quando a questão é como lidar com ela,e não ignorá-la. O cristão antes de mais nada é um ser humano com vontades, com desejos e não há como negar isso.
    Ótima mensagem!!
    Um grande abraço e que o SEnhor te abençoe!!

    ResponderExcluir
  4. Oi, Michele:

    Prazer ler o seu comentário aqui no meu blog. Sim, sem dúvida, você tem toda a razão: a questão é saber como lidar com a sexualidade; e não ignorá-la.

    Acho que nós, blogueiros cristãos, aos poucos, podemos mostrar essa necessidade.

    Muito obrigado pelo incentivo!

    Em Cristo!

    Tony

    ResponderExcluir
  5. Amigo Tony.
    Sou Teólogo apaixonado por tudo que se refere a psique!

    Sua frase:

    “o excesso de animalidade deforma o homem espiritual enquanto que o excesso de espiritualidade cria animais doentes".

    Fantástica! Mostra-nos que não se deve ter utopia quanto ao homem, e esse "equilíbrio", que você fala, entendo que não é uma "estabilidade", no sentido de “não ação”, algo imóvel, mas sim uma coerência em detectar e não se deixar levar nem pelo que poderíamos chamar de "pulsão na expansão", tão pouco "pulsão na contração".

    Veja como é maravilhosa a parábola dos filhos narrada pelo maior psicanalista que é Jesus; mostrando que viver a vida pulsando na expansão sem limites, pode diluir o ser humano e perder a sua identidade "desejar o que é desejável aos porcos", mas na "contração sem expansão", produz , angustia inveja e ressentimento contra todo o poder que se coloca a frente!

    O filho que saiu viveu a dimensão da "pulsão na expansão sem limites”, o outro que ficou na "pulsão na contração sem limites".

    Os dois movimentos da vida: A pulsão na expansão e a pulsão na contração precisa de limites, o filho que saiu precisava se contrair um pouco, e o filho que ficou precisava se expandir um pouco.

    Os dois precisavam de limites para viver, o que saiu, limites na execução o que ficou limites na retração dos desejos!

    Parabéns pelo artigo!
    Abraço de um recente seguidor do seu blog.

    ResponderExcluir

Seu comentário será exibido após examinado pela moderação.