20 janeiro, 2011

QUAL É A IDADE IDEAL PARA SE CASAR?


Vivendo num mundo pós-moderno, como o nosso, que praticamente "detonou" os valores tradicionais sob os quais foi estruturada a socialização daqueles que atualmente são considerados pessoas adultas, ou seja, os pais e avós dos jovens e adolescentes de hoje, é preciso ter muita sobriedade para considerar a resposta à pergunta que constitui o título deste artigo, tendo, como pano de fundo a ética cristã, da qual não podemos nos dissociar, se desejarmos discutir o assunto com integridade.

A partir desse pressuposto, creio que um fato natural, básico para fundamentar nossa argumentação é o de que a vida do ser humano transcorre num lapso de tempo (que pode ser 70, 80, 90 ou mais anos) no qual são acionados todos os "gatilhos" do relógio biológico, com os quais o homem veio à vida equipado.

Assim é que a criança que nasce sem dentes, com poucos meses tem o primeiro "gatilho" acionado, com a chegada da primeira dentição. Por volta dos 6 anos, temos o acionamento do segundo "gatilho" com a queda dos "dentes-de-leite" e a chegada da segunda e definitiva dentição.

Posteriormente, à medida que o tempo passa, vamos observando os sucessivos "gatilhos": puberdade, ao redor dos 11-12 anos, com a menarca (primeira menstruação) para as meninas e com a capacidade de produção de sêmen para os meninos. Muito mais tarde, por volta dos 50 anos, ocorrem o climatério, a menopausa, até o início da degeneração da vida biológica, cujo desfecho culmina com a morte, evento que, embora traumático, também faz parte da natureza.

CAPACIDADE BIOLÓGICA

Se fôssemos levar em conta apenas o aspecto biológico da questão, não haveria como contestar o fato de que, com o evento da puberdade, a partir do qual a mulher possui a capacidade de ovular e o homem a capacidade de produzir espermatozóides, fatores essenciais para a perpetuação da espécie, ambos estariam aptos para casar e gerar filhos.

No entanto, quando isso acontece (e na verdade é um fato, pois a cada ano aumenta o número de adolescentes grávidas!) acaba se transformando num transtorno, que envolve a adolescente em questão (que não foi preparada para a maternidade e deveria prosseguir em seus estudos); o pai da criança (normalmente também um adolescente que ainda nem chegou ao seu primeiro emprego); a criança em si (que poderá ser criada num ambiente muito diferente do ideal) e os pais de ambos, que acabam por assumir responsabilidades que não lhes caberiam ou para as quais também estão despreparados.

Colocada dessa forma, que a nosso ver é a correta, vê-se que seria um absurdo se a sociedade incentivasse, ou mesmo permitisse o casamento onde os nubentes seriam garotos de 12,13 ou 14 anos de idade. Em nossa cultura, isso seria simplesmente um disparate, embora não seja impossível que aconteça. No entanto, quando, infelizmente, acontece, a metáfora mais apro-priada para descrever esse fato talvez seja a conhecida canção infantil:

"... o anel que tu me destes era vidro e se quebrou,
O amor que tu me tinhas era vidro e se acabou..."

Isso significa que a criança (simbolizada pelo "anel de vidro" da canção) era frágil, e se quebrou, queimando uma etapa no seu processo de amadurecimento: perdeu as alegrias da adolescência e "adultizou-se", pela maternidade/paternidade precoce. Uma pena!

O que nos resta a dizer, à essa altura de nosso pensamento, é que, embora na adolescência (entendida aqui desde a puberdade até os 17 0u 18 anos de idade), a menina se desabroche, como a flor, numa linda mulher e o menino assuma os caracteres de virilidade próprios de um homem feito, emocionalmente, na quase totalidade dos casos, serão imaturos para assumirem uma responsabilidade tão complexa como a do casamento.

CAPACIDADE PSICOLÓGICA

Aqui entramos num outro enfoque da questão: o enfoque da evolução emocional, que é a que realmente interessa, no sentido de que, o ser humano torna-se apto para tomar sobre seus ombros determinadas responsabilidades, quando está emocionalmente preparado para tal. Isso não é diferente, no que se refere ao casamento.

Do ponto de vista da psicologia, um adolescente adquire a "idade da razão" por volta dos 14 anos, uma vez que é a partir dessa idade que se torna capaz de discriminar o certo do errado. Esse é o motivo pelo qual a maioria das igrejas só admite a chamada "profissão de fé" e o batismo, a partir dos 14 anos, pois, tecnicamente, segundo algumas correntes teológicas, seria a partir daí que ela seria capaz de distinguir com clareza aquilo que é pecado e contrário à vontade de Deus.

No entanto, a idade da razão não serve como parâmetro para determinar a aptidão emocional para o casamento. A experiência de vida: conquistas, frustrações, alegrias e decepções são vivências que farão parte, necessariamente do amadurecimento do indivíduo. Aprender a lidar com essas experiências significa aprender a interagir com a vida, ensinando a pessoa em processo de crescimento a analisar cada situação, refletir a respeito e tomar as decisões mais adequadas em relação a elas.

A conquista do emprego desejado, a oportunidade de cursar um curso superior ou técnico almejado, a aquisição de determinados bens materiais e, fundamentalmente, a consciência do quanto se tem de lutar para alcançar tais objetivos, são fatores imprescindíveis na consolidação dessa experiência que o (a) jovem deve ter para pensar em casamento.

A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA

A família de origem é, do ponto de vista psicanalítico, de longe o fator que mais pode influir positiva ou negativamente nas pessoas. Ela pode ser tanto uma bênção como uma desgraça no desenrolar da vida delas.

Isso porque ela funciona como o primeiro "espelho" onde o ser humano verá refletida a sua imagem, e, a partir dessa imagem refletida, construir uma auto-estima positiva ou negativa.

Se a família for disfuncional (pais separados, alcoólatras, indiferentes, intolerantes, ausentes, etc), o(a) filho(a) estará vendo a sua imagem num espelho defeituoso e, como resultado, construirá uma imagem defeituosa sobre si mesmo(a).

Já o inverso é absolutamente verdadeiro. Uma família funcional (pais amorosos, compreensivos, disponíveis, abertos ao diálogo, nutritivos, etc) terá o efeito de um espelho de cristal (perfeito) e fornecerá todas as condições para que o(a) filho(a) tenha uma elevada auto-estima, fundamental no desenvolvimento de suas própria vida, principalmente quando viver sua própria experiência dentro do casamento.

E A IGREJA, COMO FICA?

Paulo, escrevendo a Timóteo, diz: "Mas, se alguém não cuida dos seus, e especialmente dos da sua família, tem negado a fé, e é pior que um incrédulo". (I Tm. 5.8). Embora o contexto nos indique, neste versículo, que o apóstolo está falando principalmente do cuidado que os filhos e parentes próximos devem ter para com a viúva idosa, não seria absolutamente de nenhum prejuízo aplicarmos este ensinamento ao cuidado que os pais precisam ter para, com muita sobriedade e sabedoria, instruírem seus filhos em relação à responsabilidade do casamento.

No entanto, seria falta de sensibilidade de nossa parte reconhecer honestamente que, infeliz-mente, um número muito pequeno de famílias cristãs está realmente preocupado em orientar seus filhos para a experiência do casamento.

Dá-se muita ênfase à questão da capacidade em montar uma casa (própria ou alugada), na escolha dos móveis, nas questões materiais e até mesmo, em coisas muito insignificantes, como a escolha de padrinhos e madrinhas adequados, tipo de recepção e outras coisas dessa natureza; e despreza-se o principal, que é, sem dúvida o preparo emocional e a busca da maturidade psicológica do(a) filho(a) que irá se casar.

É aqui que, sob a nossa ótica, a igreja precisa entrar em ação, para suprir essa deficiência, planejando e levando à frente programas que contemplem tópicos como os que se seguem:

·Instrução aos pais sobre o que é realmente importante ensinarem a seus filhos em pers-pectiva de se casar, principalmente no que diz respeito à maturidade psicológica.

·Ensino aberto e esclarecedor aos jovens nubentes, incluindo: responsabilidades exigidas pela nova vida de casado, provisão/provimento de um lar, instrução clara sobre a sexualidade, diferenças psicológicas entre o homem e a mulher, etc.

·Curso abrangente sobre maternagem/maternidade, acompanhamento médico durante a gestação, preparação para o parto, etc.

É evidente que tudo isso, como o leitor percebe, seria de responsabilidade da família, mas como conhecemos bem nossa realidade, infelizmente, as famílias não estão preparadas para tanto e, se a igreja se omitir, nunca esse problema será resolvido, trazendo, como conseqüência outros muito piores, que todo pastor experiente já conhece.

AFINAL DE CONTAS, ENTÃO, QUAL É A IDADE IDEAL PARA SE CASAR?

Bem, depois de toda a exposição que fizemos, creio que a pergunta já pode ser respondida. Sua resposta pode surpreender, mas, na realidade, é muito simples: NÃO EXISTE IDADE IDEAL PARA SE CASAR!

Convém que haja uma explicação aqui. Quando afirmo que não existe idade ideal para se casar, estou pretendendo dizer que não se pode fixar esta ou aquela idade para que o casamento dê certo. O ideal é que ambos os noivos tenham complementado seus estudos, tenham um mínimo para começar uma nova vida a dois, mas o que realmente deve determinar a realização de um casamento que tenha tudo para dar certo é a maturidade emocional dos noivos e isso, definitivamente, não depende da idade cronológica!

É um fato absolutamente comprovado que, uma jovem de apenas dezessete anos seja psicologicamente muito mais madura do que uma outra de 24, por exemplo. Conheço duas jovens, filhas de uma psicóloga cristã, que casaram ambas, ao redor dos 17 anos. Mas TINHAM SIDO emocionalmente preparadas para isso durante a vida toda! Hoje são excelentes esposas e mães, são muito felizes em seus lares e seguem na igreja, servindo a Deus!

Finalizando este artigo, escrevo para você, moça ou rapaz cristão que são, potencialmente as partes mais interessadas na questão do casamento. Olhe bem para dentro de você mesma(o). Procure compreender-se profundamente. Você ama realmente seu/sua parceiro(a)? Se o(a) ama, sente-se maduro(a) psicologicamente para assumir responsabilidades como as que o casamento impõem? Buscaram juntos e separadamente a ajuda e orientação de Deus?

Se se sentem seguros na resposta a essas perguntas, então, a questão da idade não é realmente a mais importante.

Casem-se, sigam em frente temendo ao Senhor e sejam felizes!


Tony Ayres

04 janeiro, 2011

O Setting Analítico

Uma das preocupações mais encontradas nos terapeutas que iniciam a carreira é com o chamado "setting analítico" que, em última instância abrange desde a secretária e o telefone até a disposição do consultório (com divã e poltrona, sem divã e com poltrona, com mesa, sem mesa, etc).

Não diríamos que tal preocupação seja infundada, mas, sem dúvida, é superdimensionada.

Por que dizemos isso?

Porque uma tal preocupação pode chamar a atenção do analisando para aquilo que realmente não é importante, acabando por induzir a transferências negativas absolutamente desnecessárias, ainda no começo da análise.

Na verdade, o setting analítico, para ser bom, precisa ser como um juiz de futebol: quanto menos aparecer, melhor. Se passar despercebido, ótimo.

O consultório, setting analítico, local da análise deve isolar o mundo de fora para ser bom; mas não deve confinar o mundo de dentro como um mosteiro, já que as vivências dentro dele deverão repercutir fora dele.

Dentro dessa ótica, o setting deverá ser apenas um local propício para servir como campo analítico dentro do qual ocorre o entrejogo de ações, sentimentos e representações que façam fluir a análise; não dificultá-la.

O que vale mesmo é a sintonia dos inconscientes do analista e do analisando, sem interferências do setting.

Daí a razão de não se superdimensionar a sua importância.

Tony Ayres