28 setembro, 2009

O Perigo do Fundamentalismo Insensato

Em conversa com um médico psiquiatra cristão, ele relatou-me a história de um renomado pastor de sua denominação, notavelmente conhecido por seus magníficos sermões, que, infelizmente, acometido por uma enfermidade psiquiátrica, terminou seus dias maltrapilho e sujo, esquecido, catando bitucas de cigarros pelas ruas.
Esse é apenas um dos múltiplos exemplos que poderia citar aqui para mostrar a grande verdade de que a metanóia ou o novo nascimento não nos isenta de sofrimentos, nem constitui uma vacina que nos imuniza contra doenças e percalços na vida, uma vez que, em nós habita, ainda, a velha natureza adâmica, com todas as consequências da Queda, uma vez ocorrida no Éden.
É claro que existem as curas divinas. Elas são bíblicas e fizeram parte do ministério de Jesus. Mas, elas não foram para todos, naqueles dias, nem são para todos nos dias de hoje. Do mesmo modo, os milagres e livramentos.
Pedro foi maravilhosamente liberto dos grilhões da prisão por um anjo e pensava estar sonhando, até que, ao ver-se sozinho, fora da cadeia, e sentindo a brisa da noite em seu rosto, percebeu que acabara de viver um milagre de Deus.
O mesmo não aconteceu com Estevão, o primeiro mártir cristão, que mesmo testificando a sua fé e demonstrando como Deus, através das gerações, cumpriu os seus desígnios em Jesus, Autor e Consumador da salvação; foi impiedosamente apedrejado pelos judeus, até a morte.
Portanto, temos que aprender a maturidade para compreender a soberania de Deus sobre as nossas vidas, e possuir a alma leve para ter flexibilidade em nossas compreensões, se não quisermos ficar presos e enredados por um certo fundamentalismo enganoso que nada mais é do que o fruto de lentes equivocadas, na leitura e compreensão das Escrituras.
Há poucos dias, li, com tristeza, um ácido e desnecessário comentário colocado no post de um querido irmão, que o desmerecia moralmente, e, na falta de melhor argumento, acusava-o simplesmente de "comunista", por ser um leitor de um "autor ateu e comunista".
Fiquei pensando nos milhares de médicos ateus e possivelmente comunistas, que todas as noites, nos plantões de pronto-socorros e emergências médicas, salvam as vidas de milhares de cristãos que, por misericórdia de Deus, puderam cair em suas mãos hábeis e treinadas para salvar.
Quem sabe o próprio acusador da postagem a que me referi, já não teve a sua vida salva, ou de um de seus queridos, por um desses médicos ateus? Já imaginou se tal médico tivesse o mesmo ódio demonstrado por ele a todo paciente confessadamente cristão?
Isso, sem contar o maravilhoso comunismo de Jesus e dos primeiros discípulos da Igreja nascente, que se reuniam todos os dias para a comunhão e a partilha de bens (os ricos vendiam o que tinham e traziam o dinheiro aos apóstolos), de tal sorte que entre eles não havia necessitado algum e "eram um o coração e a alma do povo".
Portanto, sabedoria, equilíbrio,flexibilidade e sensatez devem fazer parte das características de um cristão. Jamais o fundamentalismo que se traduz em revolta e intolerância.
De outra sorte, como aceitar, sem perder a , que o genoma humano é extremamente parecidoAdam and Eve com o de um camundongo; como conciliar o criacionismo com o evolucionismo; como admitir que o episódio que narra a criação do homem, no Gênesis, pode ser interpretado tanto como uma fotografia, quanto como uma radiografia?
Como admitir, sem perder a fé, que cada porção de nosso cérebro é responsável não apenas por funcionalidades de nosso organismo, mas também por sentimentos, e que isso já está estabelecido e fartamente comprovado por numerosas experiências dos mais requintados e elaborados exames de imagens?
A fé, a piedade, o amor, a misericórdia, o perdão ou; por outro lado, o rancor, o ódio, o ciúme ou ou a ira são produtos de "pedacinhos" de nosso cérebro. Se uma vítima de acidente, perder, por infelicidade, a massa encefálica responsável pelos sentimentos, ela se tornará tão insensível como uma planta, incapaz de sentir ódio ou amor pelos seus entes mais queridos!
Concluindo, dizemos que, para se ter fé, a partir do tempo presente; e para se confessar um cristão salvo em Jesus, será preciso crer, apesar de todas essas circunstâncias, que não faziam parte de repertório de conhecimentos de nossos pais e antepassados.
O QUE EQUIVALE A DIZER QUE UMA FÉ FUNDAMENTALISTA E INTRASIGENTE muito dificilmente permanecerá porque, sem tirar nem pôr, é tão frágil como a casa construída sobre a areia.
Tony Ayres

23 setembro, 2009

Nossos delatores internos

764451215162383 Sempre me lembro daquele livro velho de fábulas, já se desmanchando de tanto ser manuseado, que era uma das poucas leituras que eu podia dar-me ao luxo, na minha infância austera de menino pobre.

Uma das estórias de que eu mais gostava chamava-se "Os Três Grãos de Milho". Ela relatava como um pobre diabo veio pedir esmola à porta de um jovem fazendeiro que acabara de herdar a fortuna do pai.

O arrogante moço arrancou de uma espiga três mirrados grãos e atirou-os indolentemente ao inoportuno pedinte, proferindo a frase que se tornou o título da fábula:

"Tome lá esses três grãos de milho!"

O restante da estória narrava como aquele pobre plantara, diligentemente, os três grãos; e dos pés de milho que deles germinaram, colheu várias espigas, que novamente plantou e, assim, persistentemente, de sucessivos plantios e colheitas, tornou-se um próspero agricultor.

O pobre pedinte veio a ficar muito rico, enquanto o rico, que lhe atirara os grãos, preguiçoso que era, viu sua fazenda ser tomada por ervas daninhas, e, por fim, perdeu tudo, por sua estupidez.

Como se vê, essa estória fala de extremos. O pobre esmoleiro torna-se rico fazendeiro, enquanto o afortunado herdeiro torna-se um "João Ninguém".

Essa é, na verdade, uma metáfora muito apropriada à nossa psiquê. Os conflitos mais íntimos do ser humano acontecem simplesmente porque em sua mente habitam, de lados diferentes, o ex- esmoleiro e o falido fazendeiro, que representam as forças poderosas, mas opostas, das instâncias consciente e inconsciente, que todos nós possuímos.

Aliás, se todos nós levássemos mais a sério a importância dessa realidade, seríamos muito mais cuidadosos com nossas palavras, nossos discursos e nossos escritos.

E POR QUE DEVEMOS TER ESSA SERIEDADE?

Porque nós nos projetamos em nossas palavras (por isso, Jesus disse que "a boca fala do que está cheio o coração"). Só que, sem que percebamos, nossas palavras nos denunciam também (por isso, Jesus disse que "pelo fruto se conhece a árvore).

Nesse ponto voltamos aos dois extremos que habitam a nossa mente e que se opõem entre si.

E, ONDE ESTÁ A PROBLEMA AÍ?

O problema está exatamente na expressão "extremos".

Os extremos são os "delatores" das verdades mais íntimas de cada um. Isso significa que todo aquele que defende suas opiniões, preferências, ideologias, etc; e, principalmente, aqueles que condenam atitudes alheias com "unhas e dentes", com veemência excessiva e com total inflexibilidade podem estar, simplesmente, "confessando suas próprias culpas".

Assim, o homem que se autodenomina ético e prega para o mundo inteiro a ética, no fundo, provavelmente é um ser sem ética alguma.

Da mesma forma, os que vivem, a toda e qualquer oportunidade, condenando o homossexualismo, provavelmente são homossexuais "enrustidos".

Creio ser bastante razoável refletirmos um pouco sobre isso porque essa verdade é reveladora.

Quem tem opinião formada sobre qualquer assunto simplesmente emite essa opinião, quando alguém a solicita. Não tem nenhuma necessidade compulsiva de ficar apregoando-a aos quatro ventos.

Tony Ayres

15 setembro, 2009

Vítimas do Perfeccionismo

brincogargantilhafiorini Há cerca de três anos, li um livro de um cirurgião plástico que me surpreendeu pela honestidade. Obviamente, não quero dizer com isso que os demais profissionais clínicos dessa área sejam desonestos.

Mas o tal cirurgião (infelizmente, não me recordo o seu nome) relata, em seu livro, que, muitas vezes, recusou pacientes; ou por achar a cirurgia desnecessária; ou por ter a certeza de que, por mais perfeito que fosse o resultado, nunca estaria à altura do perfeccionismo da paciente.

É justamente este ponto que revela uma importante constatação: geralmente, por trás do perfeccionismo, esconde-se uma personalidade de base depressiva e esse eminente cirurgião sabia, por experiência própria, que uma pessoa deprimida sempre se achará feia, por mais linda que ela seja, esteticamente falando.

UM SINAL DE ALERTA

Escrevi os parágrafos acima, a fim de que eles sirvam como um sinal de alerta para todo(a)s aquele(a)s que têm uma tendência para o perfeccionismo.

Pessoas vítimas desse sentimento escravizam-se, tornam-se em tudo metódicas, sofrem muito e fazem seus parceiros e familiares também sofrer.

Esquecem-se ou simplesmente não conseguem enxergar que, mais importantes do que os fatos, são as maneiras pelas quais os enxergamos.

CONCLUSÃO

Se você que lê esta postagem percebe que está sendo muito rigoroso(a) com prazos, horários, arrumação da casa ou escritório; ou sendo metódico(a) demais até nos momentos de intimidade com seu/sua parceiro(a) ou nas horas de lazer com a família; saiba que já soou a sirene de alarme.

É hora de buscar ajuda para mudar de atitude. Hoje em dia existem tratamentos muito eficientes que combinam medicamentos com psicoterapia, extremamente eficazes, para produzir, à curto prazo, uma excepcional melhora na qualidade de vida.

Não espere mais. Procure, sem demora, um profissional competente.

Tony Ayres

03 setembro, 2009

A Entrevista de Tony Ramos e a Síndrome da Fama Tele-Evangelística

"Assim, pois, pelos seus frutos os conhecereis" (Luc. 7.20)

tony-ramos Ao assistir, recentemente, à entrevista de Tony Ramos, na Rede Globo; não pude deixar de estabelecer um elo de comparação entre ele e determinado tele-evangelista, cujo desejo de fama subiu à cabeça.

Quando sai da pele de seus personagens, o homem Tony Ramos revela-se um um ser humano de rara beleza. Despoja-se de toda afetação (que, no estágio de sucesso que alcançou, até poderia ser-lhe perdoada, se a tivesse) e permite-se ser simplesmente como é e como sempre foi.

Respeitado por todos os seus colegas de trabalho como um homem íntegro, bondoso e com um enorme carisma, sua simplicidade é conhecida dentro das dependências da Globo, onde trata com a mesma humanidade, tanto colegas de peso, como o ator Lima Duarte; como os camareiros e zeladores da Casa.

Casado desde o ano de 1969 com Lidiane, a esposa por quem confessa publicamente ser apaixonado; aos 61 anos de idade, o ator é pai de dois filhos: um médico e uma advogada e já comemora a chegada dos netos, sem esconder sua alegria.

À apresentadora Ana Maria Braga, Tony confessou ser um homem simples, de família, que respeita as demais pessoas, em suas diferenças; que não abriga qualquer tipo de inveja em seu coração; que não enxerga o sucesso como algo que o seduza e que medir o ser-humano por esse parâmetro é simplesmente algo mesquinho e menor.

A CONTRAPARTIDA

Em nosso mundo cristão evangélico, infelizmente, pessoas que chegam a ganhar alguma notoriedade no meio televisivo, surpreendem-nos com um comportamento completamente oposto.

Há alguns dias, coloquei aqui uma postagem referindo-me a determinado evangelista da TV e critiquei a sua postura, quanto ao envio de $900 reais, "exigidos" pelo "profeta" que o acompanhou, como condição para a liberação da "bênção da prosperidade".

Pois bem, em seu programa do último sábado, o referido pastor da TV "mandou" um aviso" aos críticos, afirmando que poria novamente, por algumas vezes, o tal programa no ar, afirmando que "os críticos são pessoas fracassadas e recalcadas, que ficam incomodadas com o sucesso alheio" (no caso, o dele, obviamente).

Espanta saber que tal pastor não esconde de ninguém ser formado em Psicologia e, ao mesmo tempo, demonstra publicamente, na TV, que esta, infelizmente, parece que não lhe ensinou nada, tanto no que se refere ao trato para com as pessoas, passando pela incapacidade de aceitar críticas de uma forma madura ( e não na infantilidade do "revide" grosseiro); como na falta do verdadeiro conhecimento psicanalítico da "teoria do recalque", elaborada por Freud.

Por outro lado, o que entende tal pastor por "pessoa fracassada"? Provavelmente, para ser coerente consigo mesmo, um "fracassado", para ele, é alguém que não tem o desejo de estar, a qualquer preço, na TV; quem não tem a "gana" por notoriedade e "poder", que não deseja aumentar o número de cruzadas com o fito de auto-promoção pessoal; e que não tem nenhum interesse em enriquecer pedindo ofertas e vendendo livros, para ter mais tempo "no ar".

De acordo com esses parâmetros, pessoas como Albert Einstein, Ghandi, Madre Tereza de Calcutá ou o anônimo médico que dedicou a sua vida a atender as pessoas de uma favela da Casa Verde, em São Paulo, gratuitamente, apenas tomando uma xícara de café em cada barraco onde visitava um paciente; foram todos FRACASSADOS.

O QUE SE OBSERVA, AFINAL, NESTA HISTÓRIA?

Por um lado, um grande artista, famoso e reconhecido em todo o Brasil e até fora dele, como um homem talentoso, humano, realizado, de bem com a vida, que atribui ao sucesso apenas um valor menor, no grande contexto da existência.

Por outro, um tele-evangelista que precisa pagar por seus horários para aparecer na TV, que não consegue disfarçar, sob o título de cristão, o ser humano iracundo e belicoso que, na realidade, demonstra ser; e que, a continuar nesse modo de agir, provavelmente nunca terá qualquer notoriedade que ultrapasse o mundo evangélico.

O que podemos afirmar. resumindo, é que o Jesus sobre quem a Bíblia nos fala. era um homem muito simples:cansado, tomava água à beira de um poço ou dormia no canto de um barquinho.

Mesmo sendo o Filho de Deus, não tinha onde reclinar a cabeça e quando morreu, na cruz cruenta do Monte Calvário, os soldados dividiram entre si o único bem material que possuía: suas vestes pessoais.

Mesmo assim, João Batista, o último dos profetas do período de vigência da Lei, testemunhou dele, nos arredores do Jordão: "É necessário que ele cresça e que eu diminua" (Jo. 3.30).

Procura-se evangelistas de TV que estejam dispostos a seguir o exemplo de Jesus e que tenham o espírito de João Batista.

Tony Ayres