24 maio, 2010

A CORRUPÇÃO DA REFORMA PROTESTANTE

LUTEROFILME Os quatro livros considerados mais relevantes no século XX foram: A interpretação dos sonhos, de Sigmund Freud; Tractatus logico-philosophicus, de Lwdwig Wittgenstein; Origens do totalitarismo, de Hannah Arendt e A ética protestante e o espírito do capitalismo, de Max Weber.

Neste último, Weber, um dos mais respeitados nomes da Sociologia, além da defesa de uma incontestável tese sobre o capitalismo ocidental; traça, como pano de fundo, para a sua argumentação, um importante resumo da História da Igreja,no qual podemos encontrar, com um pouco de reflexão, possíveis explicações para o fenômeno da exploração da fé, principalmente pelos evangelistas da TV; com os quais tantas vezes a blogosfera cristã tem se preocupado.

Weber explica o fenômeno da Reforma Protestante, a partir de Lutero, Calvino, Armínio e, mais tarde, de John Wesley (entre muitos outros), como um movimento que tranformou os países por ele alcançado; a partir da mudança da ascese.

Dessa perspectiva, Weber explica, com detalhes, que a antiga ascese monástica, exercida "fora do mundo", nos mosteiros, pelos monges; passou a ser exercida "no mundo" pelos reformadores e seus discípulos.

Em outras palavras, nos séculos que se seguiram à Reforma, o movimento calvinista e os demais ramos do protestantismo que dele saíram (como o pietismo e o metodismo, por exemplo) adotaram um estilo de vida no qual, embora a salvação fosse enxergada como resultado da Graça e não das obras; os eleitos deveriam também glorificar a Deus através de seus dons (ou de "suas "chamadas") seculares.

O resultado disso acabou sendo um cristanismo sincero, mas bastante utilitarista, uma vez que o ganho do salário, através de um trabalho honesto e bem realizado; e o lucro (com o consequente acúmulo de riquezas) consolidaram uma ética sancionada pela Igreja, que, em última instância, era um "sinal vísivel" da eleição.

Dessa forma, os cristãos reformados, como "escolhidos", utilizavam o mundo para evangelização e testemunho - atividade que incluía o trabalho e o aumento de riquezas para a glória de Deus; ao mesmo tempo em que não viviviam "para o mundo e seus prazeres".

O dinheiro não era, então, utilizado para a "satisfação da carne"; e sim, para a evangelização e as obras sociais que, de fato, com John Wesley, por exemplo, arrancou a Inglaterra de uma situação de pobreza moral e material, tranformando completamente, pela ética,  o destino de milhões de pessoas.

 AS MUDANÇAS

Com o passar dos anos, entretanto, com a morte daqueles  líderes do passado, com o advento da Revolução Industrial e com o surgimento de uma nova burguesia protestante cada vez mais emergente, certas mudanças foram acontecendo.

A principal delas, com certeza, foi o arrefecimento da antiga perspectiva que, aos poucos, introduziu uma nova ética, a qual passou a valorizar tanto a vida terrena quanto a vida eterna.

Obviamente, essa mudança nada teria de incomum, pois nunca foi o propósito bíblico a desvalorização da vida neste mundo. O que passar daí é que pode se tornar uma exceção perigosa, que é o que colocamos, a seguir:

O ERRO

A exceção perigosa, à qual nos referimos, consolidou-se num erro: ir paulatinamente pervertendo a visão da Graça, valorizando cada vez menos a ética dos reformadores e supervalorizando o dinheiro, as bênçãos e as riquezas, como fazem determinadas facções, erroneamente denominadas de "protestantes", na atualidade e, de maneira arrogante e indisfarçavel, os chamados "missionários", "bispos" e "pastores" que, infelizmente, hoje pregam "um outro evangelho", na TV.

Tony Ayres

13 maio, 2010

ARMINOCEUS E CALVINOCEUS: O GRANDE DEBATE

ARMINIOCALVINOE  reunindo-se em assembléia os calvinoceus para tratar dos assuntos referentes à salvação eterna, após longos e exaustivos debates, deliberaram entre si que a sua doutrina, embora extensa, deveria, para efeito de divulgação, ser resumida nos seguintes pontos: depravação total, eleição incondicional, expiação limitada, graça irresistível e perseverança dos santos.

Os arminoceus, por sua vez, que não concordavam com os calvinoceus, reuniram-se também em assembléia e, com igual ardor debateram a sua doutrina que, por aclamação geral e também para efeito de divulgação, foi resumida nos seguintes pontos: vontade livre, eleição condicional, expiação universal, graça resistível e possibilidade de queda da graça.

Os calvinoceus, assim como os arminoceus mandaram escrever em grandes pergaminhos a doutrina de suas leis e, com base nos escritos desses pergaminhos têm discutido através dos séculos, reivindicando cada grupo, de per si, a verdade de seus ensinamentos.

O povo simples, desprovido dos grandes pensamentos, tanto calvinoceus como arminoceus, não conseguindo entender a elevada linguagem de seus formosos pergaminhos, excluídos, portanto, das suas discussões, resolveu ficar com a leitura do Novo Testamento e com os ensinamentos simples de Jesus e de seus discípulos.

Esse povo simples, como era de seu costume, e para a sua meditação diária,  escolheu, aleatoriamente, dois versículos na Bíblia Sagrada, que viessem consolar e alegrar seus corações.

Esses versículos escolhidos, foram, pela ordem, os que se seguem:

Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo. 3.16).

“Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida” (Rom. 5.18).

Esse povo feliz passou a se reunir e a louvar ao Senhor com alegria, visto que, em ambos os seus textos áureos está incluída a palavra “todo”, Logo, ninguém ficou excluído ou marginalizado.

Portanto, esquecendo-se dos pergaminhos dos calvinoceus e dos arminoceus, este povo simples escolheu, para edificação, o Novo Testamento, que contém os ensinamentos simples de Jesus e de seus discípulos, até os dias de hoje.

Ensaio ficcional de Tony Ayres

10 maio, 2010

O PERIGO DA LEITURA SEM DISCERNIMENTO

livros para comer Adquirir o hábito da leitura é uma das maiores riquezas que uma pessoa pode decidir ter na vida. Os livros são os tesouros que descortinam o mundo para o homem, tornam-no sábio, ensinam-lhe a prudência, o equilíbrio e, principalmente, a modéstia - a virtude que sempre acompanha a verdadeira sabedoria.

No entanto, nisso tudo existe um perigo que, infelizmente, tem se tornado cada vez mais próximo e feito cada vez mais vítimas.

Falamos da leitura, sem o necessário discernimento.

Na verdade, atrás de toda retórica existe uma ideologia, o que significa que, por trás de toda mensagem escrita existe (claramente, ou nas entrelinhas) um objetivo do escritor.

Em outras palavras, a leitura jamais pode ser simplesmente "deglutida", sem que o leitor a submeta a um filtro crítico que deve ser a sua salvaguarda. Do contrário, irá "ingerir" e "digerir" muita coisa que não presta e, o que é pior, irá assimilar o que não deseja.

Mas por que razão escrevo isso?

Porque tenho percebido  que a teologia "liberal" que alguns procuraram estudar roubou-lhes o discernimento e a capacidade de separar o joio do trigo (em se tratando de literatura). Da leitura dos teólogos liberais para a leitura de Nietzsche, Marx e Sartre, entre tantos outros, foi apenas um passo.

Evidentemente, nada tenho de pessoal contra esses escritores. Afinal, eu mesmo, os leio e alguns deles fazem parte de minha pequena biblioteca. O que me entristece é que esses autores têm sido lido e assimilados, sem o filtro crítico a que me referi.

O resultado foi a produção de um tipo de cristão que não crê mais na inspiração da Palavra, na deidade de Jesus e na existência da vida eterna. Compraram a ideologia ateísta e perderam a fé.

Fizeram como o sacerdote que foi enviado para converter um corretor de seguros, enfermo na cama.

O sacerdote não conseguiu converter o corretor, mas, em compensação, voltou para casa com uma boa apólice de seguro.

Não desejo estender-me mais sobre o assunto neste post, mas espero, sinceramente, que os que o lerem, considerem o que aqui foi exposto.

Tony Ayres

03 maio, 2010

A ESCOLHA ENTRE DOIS JUDEUS: FREUD OU JESUS?

SigmundFreud Quando Sigmund Freud inicia o seu livro O mal estar na civilização, faz referência à fé, descrita por seu amigo correspondente cristão como um “sentimento oceânico” que invade todo o ser; e confessa, logo a seguir, que ele mesmo (Freud) jamais conseguiu experimentar semelhante sentimento.

Pois bem, com esse pretexto, o pai da Psicanálise desenvolveu toda uma argumentação, utilzando o método científico, a fim de, afinal, “provar” que aquilo que chamamos de fé nada mais é do que o preenchimento de um sentimento que  visa “acobertar” o nosso desamparo existencial.

Em outras palavras: Para Freud, Deus estaria para o homem de fé adulto, assim como o pai está para o seu filhinho; ou seja, assim como o pai humano protege e cuida de seu filho pequeno, o homem também deu um jeito de “criar” um super pai cósmico (Deus) para protegê-lo e ser por ele cuidado.

Quem lê o livro logo nota que o argumento principal de Freud é o de que homem algum nasce com esse “sentimento oceânico”, que seria, na verdade, desenvolvido a partir de um ego “rudimentar” no qual se instalaria todo o conteúdo ideacional, que seria nada menos do que a fé ou o sentimento religioso.

É claro que nós,cristãos, teríamos inúmeros argumentos contra a posição de Freud. Um deles é o de que, quando Jesus disse a Nicodemos que “importa nascer de novo”, Ele já estava deixando claro, com essas palavras aquilo que Freud tanto se esforçou para provar; ou seja: o homem não nasce mesmo com o “sentimento oceânico”.

Para senti-lo ele precisa nascer novamente “da água e do Espírito”, segundo as palavras de Jesus a Nicodemos, em João, 3. No entanto, como Freud era ateu, com certeza ele não se convenceria com um  argumento puramente bíblico, assim como fazem todos os ateus.

UM ARGUMENTO CIENTÍFICO

Para darmos apenas um argumento considerado científico, basta entrarmos um pouco no mundo dos linguistas, mais especificamente, nas idéias de Noam Chomnsky, para quem  o ser humano também não nasce falando, aprende a falar depois

Segundo a linha do pensamento de Chomnsky, o homem não nasce falando, mas nasce com a capacidade de falar.

Semelhantemente, podemos também afirmar que o homem não nasce crendo, mas nasce com a capacidade de crer.

Como se vê, às vezes as pessoas se perdem e se confundem por coisas tão simples e banais, desnecessariamente.

Portanto, que conheçamos Sócrates, Platão, Kant, Nietzche e Proust.

Mas que continuemos firmes na Rocha, que é Jesus.

Tony Ayres