30 julho, 2009

Uma Igreja Cujos Líderes Se Perderam

180px-Spurgeon Quem quer que conheça um pouco da história recente da Igreja e dos grandes avivamentos ocorridos a partir do século XIX, na Europa (berço de protestantismo) e nos Estados Unidos da América, lembrar-se-á de grandes pregadores, tais como Charles Haddon Spurgeon, Charles Finney e Dwight Lyman Moody.

Esses nomes e muitos outros fazem parte da galeria dos modernos heróis da fé. Ler suas biografias é uma verdadeira inspiração para os nossos corações, um tanto empedernidos pelas mazelas das igrejas evangélicas deste século XXI.

Os três nomes aqui citados (Spurgeon, na Inglaterra; Finney e Moody, nos Estados Unidos) foram, além de evangelistas, extremados e corretos líderes de igrejas.

Os seus sermões (impressos até hoje) e as suas realizações falam por si só, não apenas de suas vidas exemplares, mas, ainda mais, do caráter ilibado que cultivaram.

A COMPARAÇÃO INEVITÁVEL

Obviamente, ao falarmos desses homens, estabelece-se, imediatamente, em nossas mentes, a grande diferença entre eles e os atuais líderes de grandes denominações evangélicas; e nem é preciso que isso seja feito com igrejas lá da Inglaterra ou dos Estados Unidos, e sim, com aquelas aqui mesmo, do Brasil.

Ficamos, então, perguntando: Por que será que, se a Bíblia não mudou, mudaram tanto as prioridades dos líderes de hoje? E a pergunta nem mesmo se refere à mudanças culturais, que são naturais ocorrerem de uma geração para outra.

Temos consciência de que o verdadeiro homem de Deus da atualidade continua com a missão de interpretar a Revelação de Ontem para os crentes de Hoje. Esse é o ofício do profeta.

Mas as mudanças ocorridas são mesmo de natureza ética e moral.

O que vemos, em nossos dias? Por um lado, líderes que transformaram suas denominações numa espécie de "papado" eclesial evangélico e em "dinastias" onde se passa o "bastão" de pai para filho; que utilizam o voto de seus rebanhos como "moeda eleitoral" e que, dessa forma, vão se perenizando no poder.

Por outro lado, líderes que preferem mercadejar a Palavra, pregar um "Deus" que aceita barganhas, que concede "bênçãos de prosperidade e riquezas" a quem ofertar "sacrifícios" em dinheiro; que "faz diferença" entre o filho que "entrega" seus valores"pela fé" e aquele que nada tem a entregar.

A IDENTIFICAÇÃO COM A "PERSONA"

"Persona" é uma palavra latina, cujo significado é "máscara" (daí a palavra "personagem"), utilizada tanto pela linguagem teatral, como pela psicologia.

Em outras palavras, "persona" designa o papel desempenhado pela pessoa; ou no palco de um teatro, ou no teatro da vida.

Psicologicamente falando, é até saudável que a pessoa utilize sua "persona" para relacionar-se melhor com seus semelhantes no campo profissional ou mesmo afetivo.

O que, absolutamente, não é saudável (pelo contrário, passa a ser uma doença) é quando a pessoa passa a não perceber mais a diferença entre as duas coisas, identificando-se com sua persona.

Nesse ponto, ela literalmente se perde, pois não sabe mais identificar e diferenciar o "seu papel" e o seu "si mesmo".

Essa é a diferença, então, entre os líderes evangélicos de ontem e alguns dos líderes evangélicos de hoje.

Os "de ontem" sabiam perfeitamente que, embora o seu papel fosse o de grandes ganhadores de almas e pregadores de multidões, pessoalmente eram homens simples, falhos e despojados, completamente dependentes da graça de Deus, para o cumprimento de sua missão.

Os de hoje, infelizmente, "se perderam", identificando-se com os seus papéis. Por causa disso,trocaram a graça e o poder de Deus, pelo fascínio do poder humano.

Em meio a isso tudo resta-nos, como uma janela de esperança que se abre, a constatação de que, para a glória de Deus e para a dignificação de seu Reino, o fato real e, realmente, encorajador, de que alguns líderes não se deixaram envolver por essa estranha "identificação".

Ao contrário, a despeito de seus carismas e do prestígio que alcançaram em meio a seus rebanhos; preferiram o caminho mais difícil, fazendo uma outra identificação: a identificação com os sofrimentos e com a simplicidade de Cristo, manifestados através do amor e do cuidado para com a suas ovelhas.

São, para a nossa alegria e fortalecimento de nossa fé, as "vozes solitárias" que ainda clamam no deserto.

Soli Deo Gloria

Tony Ayres

27 julho, 2009

Erotismo e Espiritualidade: o Equilíbrio Necessário

valentine%20gift%20valentines%20day%20gifts Ainda em seu início, a psicanálise de Freud foi acusada de promover a libertação do homem de seus instintos animais reprimidos, provocando com isso uma catástrofe de dimensões imprevisíveis.

Uma acusação dessa natureza leva-nos a uma constatação, no mínimo, reveladora: a pouca confiança que o ser humano deposita na moral, que é particularmente enfatizada pelos cristãos legalistas.

De fato, a psicanálise pode tornar conscientes todos os instintos animais inconscientes. Não, porém, para deixá-los soltos numa libertinagem sem freios, mas para integrá-los, harmoniosamente, na personalidade.

No entanto, mesmo que desconsiderássemos isso; sob quaisquer circunstâncias, seria sempre uma vantagem poder dominar, pelo conhecimento consciente, esses instintos.

Caso contrário, seus conteúdos reprimidos apareceriam em outro lugar ou outro momento, como um estorvo, como uma excrecência.

Isso representaria uma pedra dentro do sapato, pois tal estorvo apareceria (como de fato aparece), não em áreas secundárias; mas, precisamente, nos pontos mais nevrálgicos e vulneráveis da psiquê. Isso explica, por exemplo, o fato "daquela pessoa tão santa e piedosa" cair, de repente, no mais grosseiro pecado sexual.

Melhor, então, como aludimos, ser educado pela psicanálise.

As pessoas, quando educadas para enxergarem o lado feio e sombrio de sua natureza, aprendem também a lidar com esse lado, aceitando-o e compreendendo a sua dinâmica.

Isso fará delas seres humanos menos egoístas e menos hipócritas; o que resultará num bem, uma vez que a diminuição do egoísmo e da hipocrisia fará com que elas deixem de projetar nos outros a falta de respeito e a violência que tinham para consigo mesmas, antes de chegarem ao nível do autoconhecimento.

É a isso que, na linguagem bíblica, chamaríamos de "amar o próximo".

De qualquer forma, o fato de ainda trazermos dentro de nós "o velho Adão" redunda na realidade de que teremos sempre que lutar contra a sensualidade exacerbada.

A certeza que temos é que o erotismo sempre foi e sempre será um problema controvertido, independentemente de quaisquer leis ou princípios adotados, uma vez que pertence à natureza animal do homem.

Paradoxalmente, no entanto, esse mesmo erotismo está ligado às mais altas formas de espiritualidade (quando um homem se une sexualmente com uma mulher serão ambos "uma só carne"). Ora, essa é uma união não apenas carnal, mas também espiritual.

Logo, é preciso que haja um equilíbrio entre o erótico e o espiritual pois, somente assim, a comunhão do casal será completa e realizadora.

Se esses dois elementos (erotismo e espiritualidade) não estiverem harmônicos, haverá um dano por causa da unilateralidade e o resultado, fatalmente, será doença emocional.

Concluindo, podemos afirmar, então, que o excesso de animalidade deforma o homem espiritual enquanto que o excesso de espiritualidade cria animais doentes.

Mais uma vez, portanto, voltamos à verdade do antigo filósofo: "in medium virtus", ou seja, "a virtude está no meio".

No que tange à sexualidade, como nas outras questões da vida, essa virtude está no equilíbrio e na sensatez, razão pela qual qualquer tipo de extremismos deve ser rechaçado.

"Sede sóbrios; vigiai; porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar" (1. Pe. 5.8).

Tony Ayres

22 julho, 2009

A vida trata a gente como a gente trata a vida

pcmso_consulta_medica Hoje, quero lhe contar uma história sobre a qual, espero que você retire dela, algo de bom para a sua vida e a vida de sua família.

Um homem de negócios muito bem sucedido, dono de um império empresarial, consultou seu médico, queixando-se de estresse, insônia, inquietude e uma série de outros sintomas da mesma natureza.

Para sua surpresa, a receita do doutor não foi a prescrição de um ansiolítico, de um sonífero ou de um antidepressivo: Sugeriu-lhe o profissional, que passasse uma tarde em um cemitério.

Quis questionar tal indicação e mandar o médico às favas, pois, se estava ali se consultando, é porque sabia que tempo era dinheiro; e ele tinha muito trabalho a fazer, ao invés de desperdiçar uma tarde inteira, ainda mais num lugar tão desagradável como um cemitério.

Mas, o médico era renomado e parecia saber o que estava fazendo.

Assim, no outro dia, lá estava ele, sem saber bem o porquê, passeando entre as árvores de um cemitério. Percebeu que tudo ali era silêncio, quebrado apenas pelo canto de um ou outro passarinho, nos galhos das árvores do lugar.

Começou a caminhar entre os túmulos.

Aos poucos, sua atenção foi despertada pelos detalhes que começou a notar. Viu túmulos humildes e mal pintados; viu outros luxuosos, talhados em mármore fino e polido.

Viu ainda outros que pareciam pequenas catedrais, que tentavam, inutilmente, perenizar uma lembrança de alguém que se fora, há muito tempo atrás.

Começou a observar as inscrições, os epitáfios gravados nas pedras; ficou especialmente curioso pelas datas de nascimento e morte das pessoas.

Deu-se conta, olhando as fotos dos mortos que ali jaziam enterrados, que havia pessoas de todas as idades, de todas as cores, de todas as raças e de todos os níveis sociais.

Não pôde deixar de refletir sobre a efemeridade da vida e, ao sair dali, já pela noitinha, sentiu que algo que não sabia identificar ao certo o que era, havia mudado dentro dele.

Retornou ao médico, estranhamente mudado.

Não foi sem constrangimento que lhe relatou que, embora não soubesse explicar a razão, seus sintomas haviam desaparecido: não se sentia mais estressado, estava dormindo bem e até sentia "uma certa paz", que há muito, havia esquecido como era.

Por fim, confessou ao doutor que, depois de vinte anos sem tirar férias, deixara o paletó e a gravata de executivo e, na última semana, e fizera uma pescaria com a esposa e os filhos, alegre e revigorante para a família inteira.

O médico sorriu-lhe, satisfeito: "Vejo que a minha receita fez-lhe muito bem, pois você precisava confrontar-se com a morte, para voltar a valorizar sua vida! Pode ter certeza de que, a partir de agora, muitas outras pescarias, viagens e alegrias irão ser uma constante em sua vida". E apertou-lhe a mão, visivelmente feliz.

Pois bem, muita gente gasta seus dias para tão somente juntar dinheiro e, quando menos esperam, a vida passou, a velhice chegou e já não há mais tempo para mais nada.

Percebem que vazias viveram e vazias partirão para a grande viagem eterna.

Igualmente, muita gente se engana, pensando que os grandes tesouros e as grandes fortunas deste mundo estão depositados nos Bancos Centrais, nas jazidas de petróleo ou nas carteiras de ações das Bolsas de Valores do mundo inteiro.

Não percebem que as as maiores riquezas da humanidade estão simplesmente...enterradas nos cemitérios.

Ali estão sepultados não apenas ex-magnatas que foram os "donos" de todo o dinheiro que, prodigamente, juntaram, durante suas existências terrenas.

Estão sepultados também tesouros de sabedoria humana, sonhos maravilhosos, idéias que valiam milhões, fama, poder, glamour, respeitabilidade da mais alta magnitude.

Tudo transformado em cinzas.

Que tal refletir sobre isso e, se necessário, repensar suas prioridades?

E se for preciso, mudar enquanto é tempo, pois, de fato, "a vida trata a gente como a gente trata a vida"?

"Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos corações sábios"(Sal. 90.12).

Tony Ayres

20 julho, 2009

Carta a um jovem filósofo cristão

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Caro Amigo:

Obrigado pelo seu testemunho em relação ao casamento em idade muito precoce.

Infelizmente, vi exemplos demais de jovens que se casaram muito cedo, para se separarem em seguida.

Da mesma forma, conheço casos demais de outros jovens que permaneceram casados, até ocorrer aquilo que chamei de "segunda adolescência".

A vida é a vida e não se pode brincar com o relógio biológico que determina mudanças de visões de mundo, à medida em que se amadurece.

Tenho muito presente, dentro de mim, a exortação bíblica: "O homem que cavar um buraco, cairá dentro dele".

Em relação à minha posição teológica, simplesmente, não gosto de rótulos.

Acho que não é bom para um homem colocar-se dentro de um "cercado" e dar a esse cercado um nome, seja ele "calvinismo", "arminianismo", "teísmo aberto" ou "teologia relacional".

Deus não pode ser aprisionado dentro de quaisquer destes "cercados". Ele é muito maior do que quaisquer especulações teológicas ou filosóficas.

Prefiro ficar com a grande revelação do Novo Testamento: A ENCARNAÇÃO DO VERBO.

Vejo o Pai na figura do Filho, conforme a revelação de Jesus a Filipe. E isso me basta.

Que o Senhor lhe dê sabedoria para que, acima de Schopenhauer, Sócrates ou Nietzsche, tenha sempre prioridade em sua vida, os ensinos de JESUS DE NAZARÉ.

Forte abraço do amigo,

Tony Ayres

19 julho, 2009

Sexo antes do casamento

Comentário feito por mim, na data de hoje, no blog Ministério Casados em Cristo, na postagem: "Sexo antes do casamento x Formação intelectual e profissional".

Casamento Prezados irmãos conselheiros,

Graça e Paz!

Antes de mais nada, desejo manifestar todo o meu apreço e respeito para com o irmão Júlio Severo, bem como para com com a sua preocupação em preservar nossa juventude.

Mas, ainda com o mesmo respeito, e na condição de psicoterapeuta, manifestar também a minha discordância para com a sua proposta.

Isso porque, tanto a instintualidade quanto a psiquê, como um todo, fazem parte da natureza humana; e ambas têm que merecer a devida atenção, não se podendo privilegiar uma, em detrimento da outra.

Parece-me muito claro que Deus, ao planejar criar o homem jamais desejou que este fosse assexuado; razão pela qual, dotou-o de testosterona; e a mulher, de progesterona, mais estrogênio.

Esses hormônios sexuais impelem o homem em direção à mulher, bem como; a mulher, em direção ao homem.

Essa é a parte instintual da história que, aliás,somente pode ser domada pela cultura, pela civilização, pela vida em sociedade.

No entanto, a outra parte (a psicológica)não é estática, mas enormemente dinâmica. Por essa razão, jamais deve ser desdenhada, visto que é real e atávica.

A porção inconsciente da psiquê humana jamais se conforma com o domínio da cultura sobre a instintualidade, que foi, por isso mesmo; não aceita passivamente, mas reprimida.

Ora, essa repressão possui forças instintuais represadas, que procurarão escapar todo o tempo e, caso isso não aconteça por via psíquica, haverá a formação de sintomas somáticos, sob a forma de doenças orgânicas.

A saída apontada pelo irmão Júlio Severo - o casamento em idade precoce do jovem, para a preservação de sua pureza sexual e, em detrimento de sua formação intelectual, constitui apenas uma solução paliativa e um adiamento do problema, que se manifestará, com consequências ainda piores, numa idade mais madura.

A psicologia reconhece, tanto no homem, como na mulher, a chamada "crise dos 40 anos" ou, em outras palavras, a "idade do(a) lobo(a)".

Essa fase da vida humana acontece com todos os indivíduos e corresponde à uma "segunda adolescência", sem, todavia, os mecanismos de segurança que havia na primeira adolescência.

E, um dos questionamentos mais comuns nessa fase é justamente a extemporaneidade do casamento precoce.

Os cônjuges, agora, sem mais aquele romantismo da juventude, com filhos para serem criados, com todas a exigências da vida em comum e da vida profissional, fazem a "contabilidade" de suas "perdas e ganhos".

Infelizmente, a experiência tem demonstrado, fartamente, que "as perdas" pesam muito mais do que os "ganhos".

Há a frustração pela abdicação dos estudos, pela ausência de uma diversidade de experiências de namoro; o sentimento de "perda" dos melhores anos da vida e, não raro, uma maior ou menor "revolta" interior por essa puerilidade.

O resultado desses questionamentos todos é a ocorrência ( em um número estarrecedor) de "guinadas de 180 graus", que podem ser menos éticas, quando ocorrem as traições e infidelidades; ou mais éticas, quando existe antes, o rompimento, através da separação formal, para então a busca de uma nova identidade com um(a) novo(a) parceiro(a).

Fato que muito mais dificilmente aconteceria, se o casamento tivesse sido realizado por volta dos 28 ou 30 anos de idade, quando ambos os cônjuges já haveriam tido várias experiências de namoro e a formação profissional apropriada para o início de uma vida em comum com maior maturidade.

Se alguém duvidar dos fatos que aqui coloco para a manifestação de meu ponto de vista, sinta-se à vontade para comprová-los, conversando com qualquer psicoterapeuta experiente.

Espero que o choque dialético e respeitoso de opiniões conduza à uma reflexão mais profunda sobre a questão.

Cordialmente em Cristo,

Tony Ayres

17 julho, 2009

O que os cristãos evangélicos podem aprender com a novela Caminho das Índias?

caminho-das-indias-2009_thumb3 Todos nós, cristãos, sabemos que as telenovelas nada têm de edificante. Ao contrário disso, elas ensinam toda sorte de desonestidades, traições, perversões e mentiras.

Mas, daí a dizer que não as assistimos, seria pura hipocrisia (pelo menos para a maioria de nós, já que as exceções sempre existirão).

Conscientizados que estamos dessa verdade, em primeiro lugar é indispensável que tenhamos um bom filtro crítico, que nos permita discernir entre realidade e fantasia, uma vez que, sem eles, seríamos teleguiados para o mal, pela TV.

E, em seguida, se possível, aprendermos algo de útil com ela.

A NOVELA "CAMINHO DAS ÍNDIAS"

Apesar de o título deste post poder sugerir uma ironia um tanto sensacionalista, o fato é que, nós, cristãos evangélicos, podemos sim, aprender muitas coisas, através da novela atualmente exibida pela Globo.

Poderíamos passar em revista aqui, por exemplo, o comportamento emocionalmente doentio de uma série de personagens. Mas, por uma questão de espaço, faremos isso em relação a apenas dois deles, em razão da gravidade de suas psicopatologias.

1. PERSONALIDADE PSICOPÁTICA

O distúrbio de personalidade psicopática é mostrado com uma riqueza impressionante de detalhes, na novela, pela doce e meiga atriz Letícia Sabatella, que interpreta a maldosa e calculista Yvone.

Senão, vejamos:

O psicopata dimensiona exageradamente seus direitos, as possibilidades que possui e sua imunidade. Acha-se acima de todos e crê que ninguém seja capaz de descobrir os seus intentos.

As normas sociais pressupõem inibição e implicam na aplicação de castigo, uma vez que as leis foram elaboradas para coibir e para condicionar as condutas instintivas dos indivíduos.

Todavia, o psicopata não apenas transgride as normas, mas também as ignora abertamente, considerando-as apenas como obstáculos que devem ser superados na conquista de suas ambições.

Eles conseguem participar dos grupos sociais, apesar de romperem todas as normas. São incapazes de se arrependerem e de se corrigirem. A arte deles reside na dissimulação, no embuste, na teatralidade e no ilusionismo.

São refratários a estímulos negativos ou positivos. São amorais e não modificam sua conduta por causa deles.

Para o indivíduo psicopata, a mentira é apenas uma ferramenta de trabalho. Ele corrompe a verdade com a finalidade de conseguir vantagens pessoais, evitar castigos, conseguir recompensas e enganar as outras pessoas.

Ele viola qualquer tipo de normas, mas não todas as normas, vez que, violando todas as normas ao mesmo tempo, seria rapidamente descoberto e apanhado.

A relação do psicopata para com outros seres humanos ocorre sempre na forma de transgressões éticas. Para ele, a outra pessoa sempre é “uma coisa”, um instrumento de trabalho e um objeto de manipulação.

Essa "coisificação" do outro constitui a atitude que lhe permite utilizá-lo como objeto de intercâmbio e utilidade.

2. TOC – TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO

Já o transtorno obsessivo compulsivo é caracterizado pela psiquiatria como um transtorno de ansiedade, que produz muito sofrimento para seu portador e, como consequência, também para aqueles que com ele convivem.

Na novela, essa psicopatologia é apresentada pelo Dr. Castanho, psiquiatra dono de uma clínica para doentes mentais, papel desempenhado pelo veterano ator Stênio Garcia.

*Seus sintomas envolvem alterações do comportamento (rituais ou compulsões, repetições, evitações), do pensamento (obsessões sobre dúvidas, preocupações excessivas, pensamentos de conteúdo ruim ou impróprio, etc.) e da emoção (medo, aflição, culpa, depressão).

OBSESSÕES MAIS COMUNS:

- Preocupação excessiva com sujeira, germes ou contaminação.
- Dúvidas.
- Preocupação com simetria, exatidão, ordem, seqüência ou alinhamento.
- Pensamentos, imagens ou impulsos de ferir, insultar ou agredir os outros.
- Pensamentos, cenas ou impulsos indesejáveis e impróprios relacionados ao sexo (idéias sobre comportamento sexual violento, abuso sexual de crianças, homossexualidade, palavras obscenas).
- Preocupação em armazenar, poupar, guardar coisas inúteis ou economizar.
- Preocupação com doenças ou com o corpo.
- Idéias sobre religião (pecado, culpa, escrupulosidade, sacrilégios ou blasfêmias).
- Pensamentos supersticiosos: preocupação com números especiais, cores de roupa, datas e horários (podem provocar desgraças).
- Palavras, nomes, cenas ou músicas intrusivas e indesejáveis.

Compulsões ou rituais são comportamentos ou atos mentais e repetitivos, executados em resposta às obsessões. As compulsões aliviam momentaneamente a ansiedade associada às obsessões, levando a pessoa a executá-las toda vez que sua mente é invadida por uma obsessão.

COMPULSÕES MAIS COMUNS:

- Lavagem ou limpeza.
- Verificações ou controle.
- Repetições ou confirmações.
- Contagens repetitivas.
- Promover a ordem, simetria, seqüência ou alinhamento.
- Acumular, guardar ou colecionar coisas inúteis, poupar ou economizar.
- Compulsões mentais: rezar, repetir palavras, frases, números, fazer listas, tentar afastar pensamentos indesejáveis, substituindo-os por pensamentos contrários.
- Diversas: tocar, olhar, bater de leve, confessar, estalar os dedos.

As compulsões associadas a dúvidas também podem ser mentais, como reler várias vezes um texto, visualizar várias vezes uma cena, etc. Fazem parte das compulsões as atitudes evitativas (evitações).

Evitações – são, com muita freqüência, comportamentos adotados como forma de não desencadear as obsessões evitando-se as situações, objetos ou circunstâncias que geram tais pensamentos e, conseqüentemente, ansiedade.

EVITAÇÕES MAIS COMUNS:

- Não tocar em trincos de portas, ou outro objeto com a mesma conotação.
- Isolar compartimentos e impedir o acesso dos familiares.
- Restringir o contato com sofás, cadeiras e etc.*

Finalizando nosso post, desejamos enfatizar que essas duas psicopatologias são muito comuns entre os cristãos evangélicos e, frequentemente, são vistas como "obras do diabo".

Infelizmente, existem muitos "pastores" psicopatas dirigindo igrejas e milhares de crentes sofrendo de TOC.

Os pastores psicopatas precisam ser identificados por suas denominações e afastados de seus cargos, uma vez que ser psicopata é uma condição de vida (o indivíduo psicopata será assim por toda a vida).

Já o TOC responde muito bem à medicação específica e, portanto, não deve ser tratado como "possessão", com exorcizações.

Deus continua operando milagres sim, mas somente Ele tem a prerrogativa de curar ou não. E Ele tanto pode fazer isso através de um milagre instantâneo, como pode utilizar médicos e medicamentos para a cura.

Cabe a nós termos a necessária sabedoria para entendermos isso.

Tony Ayres

*Texto marcado com esse asterisco - Fonte: PsiqWeb

15 julho, 2009

Pastores em Perigo

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NOTA: Este post pode interessar a pastores verdadeiramente vocacionados por Deus e fiéis a seus chamados. Não interessará, com certeza, "pastores" assim auto-intitulados, mercadores da Palavra, vendilhões de púlpito e "politiqueiros".

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Hoje queremos falar sobre os desânimos, os desapontamentos e as decepções que, infelizmente, nestes últimos anos, vêm atingindo pastores de diferentes denominações, no Brasil e fora dele.

Esses homens, um dia, no passado, já foram fervorosos, entusiastas, pró-ativos, praticantes do primeiro amor e cheios de fé. No entanto, os longos e sofridos anos na jornada ministerial arrefeceram os seu ânimos.

Foram tantas pessoas amadas com câncer pelas quais oraram, fizeram campanhas e, mesmo assim, viram morrer; foram tantos os casamentos que celebraram e, depois, mesmo com árduas orações, viram ruir; foram tantos os projetos do coração, que, a despeito de muitos jejuns, não viram realizar-se, que o resultado acabou sendo, até como mecanismo de defesa, a apatia e o desânimo.

É evidente que isso não acontece com todos os pastores; mas apenas com aqueles mais sensíveis às intempéries inerentes à vida ministerial.

Entretanto, tal fato não deixa de representar um perigo a esses homens de Deus, haja vista que podem desaguar no ceticismo, que é sempre uma ameaça de ruína para a vida espiritual de qualquer pessoa.

Qual seria a solução para esses corações angustiados?

Não vislumbramos outra que não seja a ordem dada por Jesus três vezes ao alquebrado discípulo Pedro, na praia da Galiléia: "Apascenta as MINHAS ovelhas" (Jo. 21.17).

A partir da conscientização de que as ovelhas não pertencem a ele (o pastor) e sim a Jesus, o Bom Pastor; não haverá mais motivo para frustrações, decepções ou ceticismo.

A percepção de que querer "fazer a obra" a seu modo não é sua atribuição, mas sim, do Dono da Obra tornará tudo mais claro e mais fácil de ser entendido.

Apascentar as ovelhas de Jesus não constitui apenas um dever de todos os pastores, mas, muito mais do que isso, representa um privilégio concedido a eles.

Decidir, no entanto, o destino das ovelhas, é uma prerrogativa somente do Dono do Aprisco.

Que os nossos pastores possam sentir seus fardos aliviados com essa solene verdade!

Tony Ayres

11 julho, 2009

Seu Deus é Pequeno Demais?

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"Sempre questionei a versão da igreja católica sobre um Deus cruel e vingativo. Creio ser muito infantil a crença sobre castigo divino". (Flávio Gikovate, médico psiquiatra e psicoterapeuta, no Twitter, em 10/07/2009).

O questionamento de Flávio Gikovate sobre Deus não provém, conforme ele coloca, apenas da igreja católica. A imagem de um Deus cruel e vingativo é também, infelizmente, repassada pela maioria das denominações evangélicas; mais especialmente, as pentecostais.

Aliás, a questão das penas eternas tem uma ênfase especial em quase todas as teologias; particularmente, no calvinismo, no arminianismo e no luteranismo, além de, é claro, no catolicismo romano.

A questão de o inferno ser realmente um enorme incêndio eterno onde os ímpios serão queimados para sempre perpassa, com freqüência, a cabeça de evangélicos de todo o mundo.

Alguns, não conseguindo conciliar a idéia de um Deus bondoso ser o criador dessa espécie de inferno, racionalizam-na, atribuindo tal criação ao diabo.

Os cristão mais maduros já venceram esse estágio "infantil", segundo as palavras de Gikovate e aprenderam, que na verdade, o castigo eterno é, com certeza, a eterna separação de Deus.

Mas, fica ainda, outra questão: a de como enxergamos a Deus, ainda nesta vida. Alguns vêem-no como um verdugo, pronto a castigar seus filhos, ao menor deslize.

Outros o vêem como um policial celeste, sempre vigiando e pronto a "multar" os que, de maneira consciente ou inadvertida, desobedecem às suas "leis" (entre aspas).

Mas tem também aqueles que o enxergam como um velhinho de barbas brancas, regendo o mundo, assentado num trono em algum lugar do Universo, como um Papai Noel celestial.

Essas falsas idéias de Deus e algumas outras similares fazem parte de um clássico livrinho, escrito pelo pastor anglicano John Bertram Phillips, em 1952, cujo título é: "Seu Deus é Pequeno Demais", que ganhou notoriedade entre os cristãos de muitos países, e ainda hoje, continua a ser publicado.

Ser ter qualquer interesse, a não ser o de ajudar a quem se debate com esse assunto, recomendo a leitura do livrinho que, no Brasil, é distribuído pela editora Mundo Cristão.

Entretanto, para não isentar-me de uma posição a respeito, prefiro ficar com a imagem de Deus como um Ser justo, sim. Mas, sobretudo, amoroso, benigno, compassivo e pronto a perdoar, como nos mostram as Escrituras. Conforme a revelação dada pelo Mestre a Filipe, vejo Deus na figura de Jesus.

Entretanto, apesar de saber que, certamente serei criticado por alguns, pelo que irei dizer a seguir, vou arrematar este post com a resposta do padre Fábio de Melo, em entrevista concedida à apresentadora Maria Gabriela, no canal GNT.

Interrogado por ela, se realmente ele cria na vida após a morte (e, obviamente, na conseqüente salvação ou perdição eternas), ele, sorrindo, respondeu:

"Você me faz uma pergunta muito injusta, Marília; porque eu ainda não morri!"

Críticas ou mal-entendidos à parte, é sempre preferível a franqueza à hipocrisia.

Tony Ayres

06 julho, 2009

Por que o legalismo é perigoso?

moises As considerações que fazemos, neste post, têm base na psicologia profunda de C. G. Jung. Portanto, consideraremos, para efeito de entendimento, a palavra "legalismo" (para nós, cristão, excesso da lei mosaica), como diferente de "moral" (entendida, para todas as pessoas, como aplicação de princípios éticos-morais, adotados por uma sociedade).

Quero dizer, com isso, que "legalismo" e "moral" não vêm a ser uma só e mesma coisa, também dentro da cultura cristã evangélica.

O Engano Que Os Cristãos Cometem

Iniciando nossa argumentação, devemos deixar claro que o engano e a confusão que nós, cristão, muitas vezes, impensadamente, cometemos, é imaginar que a moral foi dada a nós e a todos os homens, pelas tábuas da lei, que Moisés trouxe do Monte Sinai.

Aquelas tábuas da lei e os mandamentos nela contidos, foram dados ao povo hebreu, à nação israelita, ao povo eleito de Deus, como um sinal visível, no deserto, em primeira mão.

Nós os recebemos depois, na forma do ensinamento dos dez mandamentos que, evidentemente, valem sim, para nós, assim como valem para os judeus.

Onde Reside o Engano, Então?

O engano está em confundir a Lei com o sentimento moral, comum a todo ser humano.

Paulo disse que não conheceríamos o pecado, se não houvesse a Lei e isso é verdadeiro.

No entanto, apesar de a Lei ser a Lei de Deus, explicitamente manifestada através dos dez mandamentos, existe um sentimento moral que já nasce com todos os homens e faz parte de sua psiquê.

A psicologia, a sociologia e a antropologia confirmam que todos os povos, de todas as culturas e de todas as religiões (até aquelas das mais primitivas civilizações, nas mais remotas ilhas) nascem com um sentimento moral, manifestado sob a forma de um sentimento religioso, mesmo que o "deus" que veneram sejam um totem, um ídolo, o fogo, o sol, a lua ou as estrelas.

Esses povos nunca chegaram a conhecer o decálogo de Moisés e os que chegaram, tinham a sua religiosidade manifesta muito antes disso.

E Onde Reside o Perigo, Então?

O perigo reside no fato (de consequências nefastas, infelizmente) de que os cristãos exageradamente legalistas, ao privilegiarem o legalismo, recalcam para o inconsciente, todo o seu sentimento moral-religioso inato.

Quando isso acontece, toda a sua "fé" e todo o seu "discurso piedoso" passam a ser sustentados exclusivamente pelo legalismo exagerado, extremamente frágil (pois constitui apenas uma casca) para resistir às tentações.

Essa é a razão pela qual, tantas e tantas vezes, testemunhamos aquelas pessoas mais defensoras de uma "pretensa santidade", através do legalismo exagerado, caírem nos mais torpes e mais rasteiros pecados.

E as Consequências Acabam Aí?

Infelizmente, não, uma vez que, segundo Jung, o homem deve aprender a conviver e a aceitar o seu lado mais negro (que ele, em sua psicologia, chama de sombra.

Mesmo os cristãos mais sinceramente convertidos, continuam sendo pecadores e possuem, portanto, a sua sombra, com a qual devem aprender a conviver pacificamente.

Uma prova disso é que, quem quer que leia atentamente os ensinos paulinos, perceberá que o apóstolo Paulo nunca deixou de trazer dentro dele o velho Saulo de Tarso, mas houve uma harmonia entre os "dois", uma vez que, pela Graça, Paulo não negou, mas absorveu em sua personalidade, o antigo Saulo.

O que não acontece com os cristãos legalistas extremados. Estes, ao invés de integrarem o velho Adão – o seu lado sombra – preferem renegá-lo, recalcando-o para o inconsciente.

Os Resultados

O primeiro deles é aquela fragilidade moral, sobre a qual já falamos. O legalista acha-se "santo", vê-se como "piedoso", acusa e coloca na cadeira dos réus a seus irmãos, com a maior facilidade.

No entanto, o seu coração está repleto das fantasias mais imorais imagináveis, a sua mente está repleta das mais sórdidas perversões, os seus pensamentos, quase sempre, são de sensualidade e luxúria.

As condenações que fazem aos demais são projeções de suas próprias condenações, que não suportariam admitir.

A Lei dos Opostos

Em seguida, em algum momento de suas vidas, acontece a Lei dos Opostos, ou Lei dos Contrários, no dizer de Jung. De repente, de uma forma surpreendente, passam para o extremo oposto.

Um exemplo inocente é o caso de um pastor que conheci que, numa Copa do Mundo abominava o futebol e defendia a exclusão de todos os crentes que possuíam televisão.

Na Copa do Mundo seguinte, não apenas ele próprio adquiriu uma TV para assistir aos jogos, como orava para que o Brasil fosse campeão.

Exemplos Menos Inocentes

Os exemplos menos inocentes constituem aqueles em que, os conteúdos recalcados inconscientes, vêm à tona da consciência como que um vulcão.

Nesses casos, a pessoa mais "santa" passa a ser exageradamente liberal; as que vêem pecado em tudo passam a não enxergar pecado em mais nada.

É comum tornarem-se "liberais", permissivas e promíscuas. Em alguns casos, infelizmente, tornam-se literalmente apóstatas e defensoras do ateísmo mais pagão.

Conclusão

Lutar contra o pecado é o espinho na carne de todos nós. Essa é uma luta, por vezes inglória; todavia deve sempre estar respaldada na Graça, pois somente pela Graça é que podemos ser salvos, unicamente pelos méritos de Cristo.

Isto posto, é dever de todos nós, pedirmos em nossas orações, que o Senhor nos conceda discernimento para reconhecermos e evitarmos o legalismo que anula a Graça.

E que os pastores legalistas reconheçam que estão emocionalmente doentes. Orem e procurem ajuda para, como Paulo, ficarem em paz com seus "Saulos de Tarso" interiores.

Que possam ficar tão emocionalmente sadios de tal maneira que, ao invés de esbravejarem com o dedo em riste, sejam capazes de pregar, obedecendo o ensino paulino, em Gálatas 6.1:

"Irmãos, se alguém for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi-o com espírito de brandura; e guarda-te para que não sejas também tentado".

Tony Ayres

05 julho, 2009

COMO SE TORNAR UM PSICANALISTA?

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Frequentemente me deparo, em minha caixa de e-mails, com perguntas de pessoas que me escrevem, desejando saber como fazer para estudarem Psicanálise e se tornarem psicanalistas.

Por causa dessas perguntas, resolvi fazer esta postagem.

COMO PROCEDER

Basicamente, existem duas formas de se tornar um psicanalista: Pela primeira delas, você faz um curso de formação que pode levar vários anos e, para ser credenciado a clinicar, você precisa fazer uma análise didática e passa a limpo a sua vida, em numerosas sessões, nas quais você é analisado, deitado num divã, por um psicanalista experiente.

Sem a análise didática, não é possível tornar-se um psicanalista, uma vez que ela o ensina, vivencialmente, a técnica que irá utilizar para ajudar os seus futuros pacientes.

A segunda delas é através do caminho oposto: Você está enfrentando problemas emocionais, fobias, dificuldade de relacionamentos, ansiedades, outras neuroses, etc, etc. Então, você procura um psicanalista e começa um trabalho de análise que pode levar desde vários a muitos anos.

Durante esse tempo todo, você é como que "desprogramado" de suas vivências infantis inadequadas e "reprogramado" com uma nova visão, mais abrangente da vida e sobre você mesmo. Neste caso, você não precisa mais de uma "análise didática", uma vez que fez uma análise para valer e, a essa altura do campeonato, sabe tanto quanto o seu analista, a chamada técnica psicanalítica.

E DEPOIS?

Mesmo assim, você faz um curso de formação e se credencia para clinicar.

Em ambos os casos, quem credencia você é a Sociedade Psicanalítica a que você se vincular, desde que você seja considerado apto por ela.

Não existe faculdade ou curso de pós-graduação para formar psicanalistas. Em todo o mundo, você só se torna um deles, através de cursos livres (isso foi preconizado pelo próprio Freud).

Mas, para isso, você precisa ter um curso superior e passar por um dos dois processos acima descritos e ser vinculado à Sociedade Psicanalítica.

Curiosidade: No curso de Formação em Psicanálise (que varia de instituição para instituição), em geral, você estuda as seguintes matérias:

  • Psicanálise I (em nível básico)
  • Psicanálise II (em nível avançado)
  • Psicanálise III ( em nível profundo)
  • Psiquiatria
  • Psicopatologia
  • Psicofarmacologia
  • Neurofisiologia
  • Interpretação de Sonhos
  • Hipnoterapia
  • Sexologia

Não é fácil ser um psicanalista. É preciso muito estudo, muita dedicação, persistência e um forte desejo, que em Psicanálise, é conhecido como "desejo de psicanalista"

Se esse for o seu caso, boa sorte!

Tony Ayres

03 julho, 2009

CARTA DE UMA MULHER ANGUSTIADA

Sad Woman's Face "Boa noite, Antônio!


Quando li este artigo em seu blog fiquei estarrecida, porque nesse texto vi a descrição do que tenho passado neste anos.

Tenho um relacionamento com uma pessoa desde os meus 15 anos de idade. Ele sempre foi muito gentil, me faz me sentir a pessoa mais importante desse mundo, nosso relacionamento sexual é muito bom.

No inicio foi uma paixão avassaladora, mas com o tempo ele queria mandar e se meter em tudo na minha vida, ele não deixava eu respirar, me fez entrar numa faculdade que não queria.

Me fez largar um emprego que gostava, pois falou tanto na minha cabeça: que vivia com uma cara de cansada, que eu estava muito agitada e que deveria deixar esse emprego.

Me fazia tantas perguntas, indagações e falava tanto, que eu ficava sem saber para onde ir, e diante de tantos argumentos eu cedia aos seus desejos, pois sou muito insegura.

Já tentei terminar algumas vezes, mas ele me convencia de que estava sendo insensata e louca, que não tinha motivos para terminar o relacionamento.

Diante de tantos argumentos como sempre acabava me sentindo culpada e mal por querer terminar o relacionamento,  sempre tomava a decisão errada, tudo sempre era minha culpa, eu nunca estava certa de alguma coisa eu sempre estava errada.

Ele sempre estava na minha frente para decidir qualquer coisa, comecei  a fazer faculdade que ele queria, era a profissão que traria o melhor rendimento financeiro pra mim,  faria um concurso público e então ganharia um excelente salário e seria independente. Mas era tanta pressão em cima de mim que comecei a definhar não conseguia estudar.

Fui muito mal na faculdade e nos concursos, aí depois de quase 10 anos insistindo numa profissão, decidi mudar, surgiu uma oportunidade de fazer outro curso, mas me pego muitas vezes pensando se esta decisão é a certa.

Às vezes quando chego em casa feliz e quero compartilhar algo ele nunca está disposto a ouvir.

Está com dor de cabeça, diz que sou sem noção, às vezes acho que estou ficando doida, essa e a sensação que tenho hoje, eu já não sei o que e certo ou errado.

O que me atrai nele é que ele me traz segurança, ele é super-inteligente, porém vigia meus passos. Se não consegue falar ao celular comigo, já fica desesperado.

Ele era de família rica e eu de família pobre, eu fazia tudo que pedia como se fosse uma ordem. Ele nunca me escuta, nunca tem tempo para mim sempre tem uma desculpa, e inverte a situação como se eu fosse sem noção.

Sempre falo as coisas em hora errada e se irrita feio comigo. Hoje acabou de acontecer mais uma vez isso, meu emocional está muito abalado, tenho nesses dias, dando uma volta ao passado e tenho pensado no que fiz com minha vida.

Por que pude ser tão omissa , diante de tantas decisões da minha vida, talvez para que se desse errado eu não me culparia e sim outra pessoa.

Eu não confio em mim; me desculpe por escrever tanto , mas isso é um desabafo de tantos anos.

Diante de tudo que li, acho que convivo com uma pessoa assim, me ajude por favor, porque já comecei achar que sou louca. 

Não sei, me encontro perdida... querendo me encontrar.

Obrigada!"

RESPOSTA

Cara amiga:


Evidentemente, como uma pessoa que nem a conhece (e mesmo que  a conhecesse) não posso tomar decisões por você. No entanto, lendo o seu e-mail, gostaria que você refletisse sobre o que direi a seguir:


1. Um relacionamento somente é lagrimaagradável e nutritivo quando é bom para ambos os parceiros. O próprio nome "parceiros" já traduz essa idéia. É preciso haver equilíbrio na balança que mede defeitos e qualidades. É preciso também que o peso das decisões do casal seja justo. Ou seja, os dois devem ter os mesmos direitos e as mesmas responsabilidades. Não me parece ser, absolutamente, esse, o seu caso.


2. A pessoa que realmente ama, não explora a outra, física, moral ou emocionalmente. Ao contrário, procura cuidar dela e se preocupa com o seu bem- estar. A relação somente pode ser boa quando o jogo é "ganha-ganha" (os dois parceiros ganham) ; e não quendo for do tipo "ganha-perde (um deles sempre ganha e o outro sempre perde).


3. A própria idéia de amor pressupõe respeito à individualidade do outro. Você é um pessoa; não um robô teleguiado. Nenhum ser humano tem o direito de impingir ao outro as suas próprias vontades.


4. Quando o relacionamento de vocês começou, você era muito jovem (tinha apenas 15 anos). Agora, porém, parece-me uma mulher adulta, que já percebeu o que a sua alma almeja. Portanto, leve isso em consideração.


5. Você diz que o relacionamento sexual entre vocês é muito bom. Porém, nenhum relacionamento duradouro pode estribar-se apenas na sexualidade. A vida harmoniosa de um casal precisa ser muito mais do que sexo, apenas.


CONCLUSÃO:


Domestic woes ILLUS.jpg Por tudo o que me disse, parece-me que você tem sido prejudicada em todos os cinco itens que coloquei acima. Isso minou a sua auto-estima, que precisa ser, obviamente, reconquistada.

No entanto, dizer que que seu companheiro não a ama (e que, portanto, você deve deixá-lo, imediatamente) seria precipitação de minha parte, mesmo porque já lhe falei, no início, que não decidiria por você.


O que posso lhe dizer é que, quando, em qualquer tipo de relacionamento, existe um "opressor" e um "oprimido", esse círculo vicioso só pode ser quebrado pelo "oprimido", que no caso, é, realmente, você.

Penso que você deveria ter uma conversa adulta e muito séria com seu companheiro, a fim de estabelecer os seus limites e exigir que eles sejam respeitados.


Ao contrário do que geralmente se pensa, um homem respeita muito mais uma mulher que toma decisões e sabe cuidar de seus direitos e de sua individualidade; do que aquela "boazinha em tudo", a quem, consciente ou inconscientemente, ele terá a tendência de fazer de "gato e sapato".


Se ele concordar com as "novas regras", creio que tudo pode mudar para melhor, pois, a despeito das inseguranças dele, é possível que realmente ele ame você. Além disso, vocês já têm investido muito nesse relacionamento e pode valer a pena levá-lo adiante, sob novas condições.


Entretanto, se ele não concordar com a mudança; em minha opinião, você estará livre para tomar a decisão que achar melhor.
Você e somente você, consultando o seu coração, pode, soberanamente decidir o que é melhor para a sua vida.
Espero que saiba decidir corretamente.


Cordialmente,


Tony

DEUS FALA COMO QUER

balaam Depois de um longo dia de trabalho e após mais aproximadamente 4 horas de aulas no Seminário,eu voltava para casa exausto, instintivamente apertando um pouco mais o pé no acelerador do carro, com o desejo de chegar o mais rápido possível.

Tinha atravessado boa parte da cidade e estava a menos de 10 minutos de casa, quando, ao fazer uma curva, subitamente, ouvi uma voz falar claramente ao meu coração:

"Dirija-se, agora mesmo, à frente do templo".

O templo em questão era a igreja pela qual eu era responsável, e embora não muito longe do lugar onde me encontrava, ficava na direção oposta ao caminho de minha casa.

Achei que era imaginação de minha mente, pois o que iria eu fazer num dia de semana, com as ruas desertas, já quase meia –noite, diante de um templo fechado?

Mas, a voz insistia, dentro de mim: "Vá agora mesmo ao templo".

Diante de tal circunstância, decidi fazer aquilo que havia aprendido no Seminário não ser sensato fazer. Fiz uma oração, dizendo mais ou menos assim:

"Senhor, estou sentindo uma orientação para ir agora mesmo ao templo. Não tenho certeza se isso é pensamento meu, ou uma orientação de Tua parte. Portanto vou abrir a Bíblia aleatoriamente e peço-te que me orientes, pela Tua Palavra".

Feita a oração, sem nem mesmo desligar o motor de carro, encostei por um momento próximo ao meio-fio, acendi a luz interna e abri a Bíblia.

Meus olhos caíram sobre o seguinte texto:

"Portanto, tornai a levantar as mãos cansadas, e os joelhos desconjuntados, E fazei veredas direitas para os vossos pés, para que o que manqueja não se desvie inteiramente, antes seja sarado" (Hb. 12.12-13).

Imediatamente, entendi que alguém precisava de ajuda. Desliguei a luz interna do carro, engatei a marcha e rumei para a igreja.

Qual não foi minha surpresa, à medida em que ia chegando ao local designado, perceber que um dos jovens da mocidade, estava em pé, na calçada oposta, bem defronte do templo, com o olhar desesperado.

Quando estacionei o carro e desci para cumprimentá-lo, sua voz saiu, num misto de surpresa e de extremo alívio: "Pastor, ainda bem que o senhor veio até aqui. Eu estou desesperado e, se o senhor não chegasse, sinto que iria estourar".

Procurei acalmá-lo, e pedi-lhe que me dissesse, sem temor, a razão de seu desespero.

Nos longos minutos que fiquei com ele, naquela hora deserta da noite, pude ouvi-lo desabafar a história de sua criação e confessar a sua vida de homossexualidade, que trazia escondida em seu coração.

Tive oportunidade de aconselhá-lo, orar com ele e por ele, dar-lhe uma palavra de orientação e de conforto. Quando nos despedimos afinal, seu semblante estava alegre e seu coração apaziguado.

Retomei o caminho de casa, dessa vez convicto de que fora obediente à voz do Senhor.

Durante o tempo em que permaneci como pastor daquela igreja, pude ver aquele jovem sentindo-se perdoado e feliz, fazendo alegremente e com disposição, todo o trabalho que lhe era confiado.

Aprendi mais uma vez que Deus é soberano. Fala a quem quer,no momento em que quiser e da maneira que Lhe aprouver.

Soli Deu Gloriae

Tony Ayres