01 dezembro, 2013

TRAUMA DO NASCIMENTO, ANSIEDADE E AMOR


O chamado “trauma do nascimento” foi objeto de estudo do psicanalista vienense Otto Rank que, aliás, como um de seus legados, deixou um livro escrito, exatamente com esse nome.

Opondo-se a Freud, de quem foi discípulo por muitos anos, Rank passou a ver a origem das neuroses num período da vida muito anterior àquele estabelecido por seu mestre, em sua teoria psicanalítica.

Para Rank, portanto, a ansiedade experimentada pelo indivíduo deriva do ato fisiológico do momento de seu nascimento, visto como um instante traumático, pois, além dele passar  por um sofrimento físico de desconforto absoluto, sofre também a sua desvinculação do útero materno.

Essa ansiedade, derivada do trauma do nascimento passa, então, a ser a gênese daquela sensação de “vazio”, que, de uma forma ou de outra, acaba nos impelindo para a busca de uma completude, que, para alguns, pode realmente ser encontrada, enquanto para outros, permanece como uma eterna busca.

O certo, porém, é que, no decorrer da vida, passamos a procurar por um “preenchimento” de nosso “vazio” ou de nossa incompletude.

Via de regra, o remédio para essa carência é o encontro de uma  certa sensação de aconchego, que reproduzirá e nós o que sentíamos com a nossa mãe, na verdade, o nosso primeiro objeto de amor.

De acordo com o psicanalista Flávio Gikovate, “...em papeis antagônicos, o bebê e sua mãe sentem a mesma emoção: o amor entre ambos é recíproco, apesar de que um cuida e o outro é cuidado”.


Ainda de acordo com o mesmo psicanalista, “...é interessante refletir sobre essa relação, pois a mãe, ao acolher e amamentar seu filho, também experimenta intensa sensação de aconchego!”
Essa espécie de “simbiose” entre mãe e filho, acaba se perenizando nas relações íntimas entre adultos, haja vista a repetição desse modelo: um parceiro é o que cuida mais enquanto o outro é quem recebe maior dose de cuidado.

Usualmente, aquele que cuida  tem mais certeza de seus sentimentos. Já quem é cuidado tende a duvidar de quanto ama, exatamente em razão das vantagens que obtém, o que não deixa de ser interessante.

Em linhas gerais, na relação amorosa entre adultos, passa a vigorar, então, a seguinte regra: os que preferem ser cuidados, ao invés de cuidar, são emocionalmente mais imaturos  e egoístas.


O ideal seria que nas relações amorosas entre adultos, os papeis se alternassem: o homem seria, algumas vezes, o pai e, algumas vezes, o filho; e a mulher, por sua vez, seria, algumas vezes, a mãe, e, algumas vezes, a filha.

Esse ideal não é tão difícil de ser alcançado e, quando de fato, o é, temos, então, uma relação amorosa, ao mesmo tempo madura e aconchegante!


Antônio Tadeu

10 agosto, 2013

SONHAR E CORRER RISCOS




Saiba de uma coisa: todos nós somos movidos por sonhos e é por essa razão que os seres humanos devem cultivar essa maravilhosa capacidade de sonhar. Os limites de um animal são dados pela extensão de sua pele, mas os limites de um homem ou de uma mulher são medidos pela sua capacidade de sonhar.

É claro que não estou me referindo aqui às representações oníricas, ou seja, às imagens simbólicas que representam os sonhos de quando estamos dormindo e constituem a manifestação da parte inconsciente de nosso ego.

Refiro-me aos sonhos que cultivamos no mais íntimo de nosso ser. Aquele tipo especial de sonho que foi plantado por Deus no coração de Abrão, quando o chamou para fora de sua tenda e lhe disse:

“Olha para o céu e conta as estrelas, se é que podes”.

Parece-me ver Abraão, tentando contar:

”Uma...,duas...,dez...,cento e trinta...,mil e vinte e uma...,perdão, Senhor, são milhares, são milhões....!”

Então o Senhor lhe disse:

“Pois, assim será a sua descendência”.

Naquele momento, tenho certeza de os olhos de Abrão brilharam, pois ele viu em cada uma daquelas brilhantes estrelinhas, um filho seu!

Então, qual é o “seu sonho”?

Mas...para que o sonho se realize, é preciso também que corramos riscos, que tomemos coragem de sair de nossa zona de conforto e deixemos a chuva cair em nossas costas.

Soren Kierkegaard, filósofo dinamarquês do passado, disse: “Quem se arrisca, corre o risco de perder o pé por um pouco; quem não se arrisca, perde a vida”.

A vida está passando...Corra riscos! Permita que o seu sonho se realize!



Antônio Ayres

19 julho, 2013

A AUTO-SABOTAGEM


Uma questão muito interessante no mundo das inter-relações pessoais é aquela que diz respeito a pessoas maduras, de alguma forma traumatizadas por relacionamentos vivenciados ao longo dos anos, que, de uma forma aparentemente inexplicável, agem contraditoriamente, quando se vêm diante de uma possibilidade real de ser feliz, num segundo casamento, por exemplo.

Em geral, esse universo de pessoas é composto por indivíduos que vivenciaram muitos sofrimentos, às vezes lutos, às vezes decepções por relacionamentos acabados; quando vislumbram a possibilidade de voltarem a ser felizes.

Tais indivíduos, quando percebem que encontraram um novo alguém especial, ficam tão embalados pelo sonho de felicidade, que acabam ficando ansiosos demais, em virtude do excesso de expectativas que lhe sobrevêm.

Tudo isso é um mecanismo inconsciente, mas funciona mais ou menos, assim:

A pessoa começa a sentir medo da própria felicidade que está sentindo, em razão do outro medo, que é de perder o objeto amado (no caso, a outra pessoa), o que ela não suportaria. Então, a sua mente inconsciente conspira contra ela e a ansiedade, gerada pelo medo de perder a pessoa querida fica tão grande, que se torna insuportável.

Nesse ponto, a fim de ver-se livre da ansiedade (lembre-se de que tudo isso é inconsciente), ela acaba boicotando a própria possibilidade de ser feliz, "dando um jeito" de desagradar e magoar o objeto amado, e terminar, assim a relação, para ver-se livre da terrível ansiedade. Mas, com isso, acaba perdendo também a possibilidade de ser feliz.

Essa é a descrição daquilo que os psicoterapeutas costumam chamar de auto-sabotagem.

As pessoas que se perceberem vítimas dessa situação precisam procurar ajuda psicoterapêutica, a fim de não inviabilizarem a própria felicidade.

Afinal, ser feliz, é objetivo de todos nós.

 Antônio Ayres


08 março, 2013

CARTA A UMA MULHER QUE DESEJA DIVORCIAR-SE DE UM ESPOSO INQUIETO

Prezada “X”


Se você está casada há 30 anos, imaginando que tenha se casado com uns vinte, deve estar agora com a idade ao redor dos 50 anos.


Nessa altura da vida, todos os casais já viveram conflitos e problemas suficientes para que cada parceiro conheça o outro também suficientemente bem e, portanto, têm noção sobre o que vale ou não a pena, em termos de relacionamento.


Espero que, com a sua idade, você seja madura o bastante para ter consciência de todas as implicações que uma tomada de decisão acarretará, seja ela em que direção for.


É preciso também que se lembre de que, quando se escolhe alguém para com ele partilhar a vida, você está adquirindo o "pacote inteiro". Com isso, quero dizer que você já deve ter compreendido que assumiu um compromisso não apenas com a parte virtuosa de seu esposo, mas com a parte de defeitos também.


Compreendo o seu mal estar pela personalidade inquieta dele. Talvez, um dia você tenha sonhado com alguém que lhe desse tranqüilidade, paz e segurança, mas, as nossas escolhas nem sempre  (ou quase nunca) revelam-se tão gratificantes como as idealizamos.


Você se confessa cristã e seu marido também. Mas, o fato de sermos cristãos não significa que sejamos melhores ou piores do que outras pessoas, em termos de relacionamento. 


Todos nós precisamos despender um certo esforço e sermos menos egoístas para que consigamos conviver em harmonia com quem escolhemos como parceiro. Isso não é fácil, mas é necessário para tornar a existência mais amena e menos dura.


Agora, como disse anteriormente, você deve ter consciência das implicações de suas decisões.


Em outras palavras, creio que deve refletir bastante no que irá fazer. Veja bem, você e seu esposo já partilharam não apenas sonhos (que incluíram, inclusive a adoção de um filho). Com certeza, tiveram momentos felizes também. Construíram um relacionamento que já dura 30 anos e isso não é pouca coisa.


Todavia, a despeito de tudo isso, pode ser que você realmente tenha certeza de que não o ama mais e que não valeria a pena continuar nesse casamento. Neste caso, então, pergunte-se a si mesma: O que faria, voltando a ficar solteira com a sua idade?


Valeria isso a pena? Teria a chance de reconstruir sua vida com outro parceiro mais confiável? Teria condições de se sustentar física e emocionalmente? Teria estrutura suficiente para começar tudo do zero? 


Se puder responder "sim" a todas essas perguntas; então creio que vale a pena pensar nessa possibilidade. Afinal, não se pode viver acorrentado a uma união apenas de aparências, pois isso seria muito infeliz.


Todavia, se tiver dúvidas quanto as perguntas, creio que é possível dar uma chance a seu casamento, pois, apesar de você dizer que falta diálogo nele; o próprio fato de seu marido reconhecer que não sabe dialogar já demonstra que ele admite esse diálogo.


Como vê, eu apenas posso ajudá-la, chamando a sua atenção para alguns pontos.


A decisão final será sua, pois, ninguém pode decidir nada por outrem.


Espero que reflita, que deixe a graça de Deus arejar seus pensamentos, que perceba que sempre é tempo para mudanças e que a esperança é uma parceira muito íntima da fé.


Seja o que for o que decidir, espero que o faça com os pés no chão e que acredite que, com a ajuda de Deus, ser feliz não é, absolutamente, impossível.
N'Ele, em quem reside toda a esperança.


Antônio Ayres


(Tony)

22 fevereiro, 2013

A LOUCURA DE NIETZSCHE E O ATEÍSMO DE EX- CRISTÃOS

Friedrich Wilhelm Nietzsche, como bem sabem seus admiradores, nasceu no seio de uma família luterana em 15 de outubro de 1844. A família original (conforme nos ensina a Psicanálise) é o espelho que serve para moldar, positiva ou negativamente, a formação da identidade do indivíduo adulto.

Muito freqüentemente, quando essa família é bem estruturada, amorosa e acolhedora, a criança que dela promanar, se tornará um adulto psiquicamente saudável e capaz de experimentar uma existência livre de neuroses, apto a transpor os problemas de sua evolução existencial.

Nietzsche era filho de Karl Ludwig e seus dois avós eram pastores protestantes, fato que não garante; mas que valida a presunção de que tenha crescido num ambiente sadio, uma vez que ele próprio considerou seriamente a possibilidade de seguir a carreira de pastor. 

No entanto, em razão de influências posteriores, Nietzsche rejeitou a fé durante sua adolescência, e, ao invés de estudar Teologia, como havia pretendido, decidiu-se pela Filologia e pelas especulações filosóficas, tornando-se, talvez, o mais influente e destacado filósofo da era moderna. 

UM PREÇO A PAGAR

Cumpre-nos discutir ligeiramente, aqui, que quando o indivíduo rompe bruscamente com a sua formação original, indo na direção oposta; essa mudança pode não ser intimamente autêntica e, nesse caso, transforma-se numa fonte de neuroses, as quais, sendo na verdade frutos de catexias inconscientemente reprimidas, tornam-se patológicas, e adotam o mecanismo de defesa conhecido como NEGAÇÃO, para fazerem-se representar; além de sintomas somáticos que passam a interferir na saúde física de quem delas passa a ser portador.

O CASO DE NIETZSCHE

Evidentemente, este modesto psicanalista que escreve estas linhas não tem a pretensão de ser o dono da verdade. No entanto, tenho sérias razões para pensar que o que descrevi acima pode, com boa margem de possibilidade, ter sido o caso desse brilhante filósofo.

Três razões principais fazem-me pensar dessa forma:

1. A saúde frágil de Nietzsche, suas constantes dores de cabeça e outros sintomas que o afligiram desde a sua mudança radical, aliados à sua contínua inquietação constituem conhecidos e tradicionais sintomas somáticos de pacientes, vítimas da NEGAÇÃO. 

2. Um outro sinal muito evidente de quem adota a NEGAÇÃO como mecanismo de defesa é uma ira extremada e um ódio obsedante, dirigidos sempre ao objeto dessa negação (no caso de Nietzsche, com muita clareza, o cristianismo) que passa a atacar obssessivamente.

3. Finalmente, a possibilidade bastante provável de um conjunto de neuroses ser tão avassalador, que pode  transformar-se numa psicose. De acordo com o que conceituou Freud e o próprio Carl Gustav Jung, seu discípulo dissidente, a esquizofrenia é o último e derradeiro refúgio no qual a defesa do ego adoecido pode se abrigar. Todos sabemos que, infelizmente para a filosofia e para o próprio filósofo, Niezsche ficou louco, cerca de dez anos antes de morrer.

CONCLUSÃO

A razão de tudo o que descrevi acima tem um propósito.

Convidar os leitores deste blog a uma séria reflexão. Infelizmente, para nós, que participamos da blogosfera conhecida como cristã, dois ou três irmão em Cristo, também dizem que mudaram radicalmente em suas convicções e se auto-proclamam, agora, ateus convictos.

Desconfio desse ateísmo. Temo que ele seja também, uma vez mais, a repressão da fé sob o disfarce do mecanismo de defesa da NEGAÇÃO, haja vista os arrebatadores ataques que agora fazem ao cristianismo.

Finalizando, fecho esta postagem, destacando que o contrário da fé não é a descrença. O contrário da fé é o medo.

Tony Ayres
NOTA: para atendimento on-line por Tony Ayres, visite o site:
http://www.wix.com/tony_ayres_psic/psicoterapeutaonline