"E se eles forem inocentes?" - essa é a pergunta através da qual o escritor Marcelo Carneiro da Cunha inicia seu artigo no "Terra Magazine, edição de hoje(http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI4341027-EI8423,00-E+se+eles+forem+inocentes.html).
Nesse artigo, conforme você pode conferir, o colunista mostra o "circo" montado em frente ao forum de Santana (bairro da Zona Norte de São Paulo) onde ocorre o julgamento; em que não faltam repórteres à cata de quaisquer novidades, tolos com placa de protestos e até um pastor evangélico, expulso (provavelmente por querer converter vidas, "com seu coração piedoso") pelo inoportunismo de sua intervenção.
O escritor contrasta a "comédia" desse circo que se formou do lado de fora do forum, com o drama que se desenrola em seu interior, duríssimo pela sua realidade; e nefasto pelo número de vidas que, de qualquer maneira, serão afetadas pela decisão de um juri.
E nada disso poderá trazer de volta, a doce e meiga menininha Isabella, a grande vítima desta tragédia.
No dia de ontem (25.02.2010), os noticiários de TV e as notícias de jornais chamaram a atenção para a atuação dos curiosos do lado de fora da "arena de julgamento", que chegaram a subir nas paredes e a correr atrás do veículo penitenciário, aos gritos de "justiça" e "assassinos".
Sem entrar no mérito da questão sobre a culpabilidade ou não dos réus; esses fatos fizeram-me lembrar da "mulher adúltera", atirada diante de Jesus para que Ele a julgasse e para saber qual seria o seu veredicto, perante a Lei de Moisés.
Tal qual no forum de Santana, ali, diante de Jesus e de uma mulher extremamente humilhada, estava também armado "um circo", que a multidão queria ver "pegar fogo".
No momento mais crítico, de maior dramaticidade e expectativa, eis que, serenamente, o Juiz ergue os olhos para a turba e diz: "aquele de vós que estiver sem pecado, atire a primeira pedra" (para matar a mulher).
A CULPA ESTÁ NA INTERIORIDADE DO SER HUMANO
A resposta de Jesus a todos pegou no contrapé, uma vez que Ele direcionou a acusação feita por aqueles homens para a interioridade de cada um deles; uma situação que, definitivamente, eles não podiam esperar e, por serem legalistas, muito menos suportar.
Naquele momento, Jesus os confrontou, não mais com a acusação que faziam à mulher; mas com a acusação que suas próprias consciências faziam contra si mesmos. E, como sabemos, nenhum deles considerou-se inocente.
Veja outra ocasião em que Jesus mostra que todos nós somos culpados: "
"E aqueles dezoito, sobre os quais caiu a torre de Siloé e os matou, cuidais que foram mais culpados do que todos quantos homens habitam em Jerusalém? Não, vos digo; antes, se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis" ( Lc. 13. 4-5).
QUAL É A LIÇÃO QUE TEMOS NESSA PASSAGEM?
Muitos têm a tendência de julgar, ao ouvir ou saber de qualquer catástrofe, que aquele ou aqueles que dela foram vítimas eram, de alguma forma, "culpados". Logo, racionalizam, a catástrofe foi "o castigo divino" para os tais.
Jesus mostra, então, com clareza, que a culpabilidade, como no caso da mulher adúltera, está no interior de cada um de nós.
VOLTANDO AO COMEÇO
Retornando ao início desta postagem, desejamos destacar que o colunista do Terra, Marcelo Carneiro da Cunha, ao se referir ao casal Nardoni, afirma: "...se forem inocentes, esses dois acusados são hoje as pessoas mais injustiçadas desse país".
Pessoalmente, ainda sem entrar no mérito da culpabilidade ou não do casal, em relação a esse bárbaro crime, lembraria o fato de que, assim como os "acusadores" da mulher, nos tempos de Jesus, e assim como os manifestantes do forum de Santana, todos somos culpados de muitas coisas.
E para concluir, digo: muitos de nós que, talvez acusemos os réus do caso Isabella, talvez tenhamos culpas em nossas consciências também.
Quantos de nós, talvez, já não "matamos" emocionalmente nossos filhos, esposas e netos? Quantos, talvez, já não "assassinamos" psicológicamente nossos colegas de trabalho, amigos e companheiros de de ministério?
Talvez, a advertência de Jesus ainda encontre eco na nossas consciências:
"Aquele que dentre vós estiver sem pecado, atire a primeira pedra..."
Tony Ayres