Às vezes, a maior luta ou o maior empenho de um médico para tratar de seu paciente está ligado à questão de sua capacidade de, mediante a análise dos sintomas, formular um correto diagnóstico.
Em outras palavras: somente um diagnóstico preciso é que permite o tratamento apropriado e a a possibilidade de cura .
É impressionante como essa premissa aplica-se em todos os setores da vida dos seres humanos. Mas, quando enxergamos nossas mazelas existenciais sob esse prisma, o que nos surpreende mesmo é a constatação de como um único diagnóstico; ou, se quisermos, de uma única causa, é o elemento gerador de muitos males vivenciados pelo homem.
Para demonstrar essa realidade, vamos tomar o texto bíblico da parábola do semeador na qual Jesus diz, referindo-se às sementes, que uma parte delas "caiu em solo rochoso, onde a terra era pouca, e logo nasceu, visto não ser profunda a terra. Saindo, porém, o sol, a queimou; e, porquanto não tinha raiz, secou-se" (Mat. 13. 5-6). Vejamos alguns poucos exemplos de como "a falta de raízes" é a razão do fracasso:
1. O CASAMENTO QUE NÃO DÁ CERTO
O que se observa em quase todos os casamentos desfeitos é que, desde o princípio, ou à partir de algum momento, ambos ou apenas um dos cônjuges deixou de dar prioridade à relação ou ao vínculo matrimonial, começou a negligenciar o seu papel e a permitir-se algumas irresponsabilidades ou "privilégios" que a relação conjugal não comporta.
Em outras palavras, a união entre marido e mulher ficou "rasa", ficou sem raízes e se secou. O resultado, como seria de se prever, acaba sendo a separação ou o divórcio.
2. A PROFISSÃO MAL SUCEDIDA
Um indivíduo, quando escolhe uma profissão, na época de estudo, por exemplo, pode fazê-lo por várias razões: ou porque sabe que aquilo é a sua vocação; ou por imposição dos pais; ou por imperativo das circunstâncias.
O certo é que uma profissão pode ser exercida, pelas razões acima, ou com boa ou com má vontade. Neste último caso, a pessoa se frustra, não se sente realizada, o trabalho se torna enfadonho e, como consequência, pela falta de envolvimento, ocorre o desinteresse, a negligência; que, em muitos casos, faz com que essa pessoa seja demitida ou se demita do emprego.
Como vemos, a falta de "raízes" em relação à profissão é que inviabilizou a sua continuidade.
3. O EMPREENDIMENTO QUE FRACASSA
Algumas vezes, encontramos pessoas ávidas por serem empreendedoras, mesmo não tendo o perfil do empreendedor. Quando isso acontece, geralmente há um planejamento superficial do negócio, ocorre queima de etapas importantes, prioridades erradas, gastos desnecessários e a previsível derrocada de algo que até poderia dar muito certo, se realizado na perspectiva adequada.
Entretanto, como nada foi feito com a amplitude desejável, as “raízes” ficaram, mais uma vez, muito rasas e o resultado acaba sendo o fracasso do empreendimento.
4. A FAMÍLIA SEM HARMONIA
Dentre as organizações humanas, a constituição e o desenvolvimento de uma família saudável é, sem dúvida, o mais desejável para que também os seus integrantes se transformem em cidadãos com noções corretas de civilidade e cidadania.
Ocorre, entretanto, que muitas famílias, por razões diversas, se tornam disfuncionais. Os pais acabam por negligenciar os seus papéis, chegando mesmo a ignorá-los em razão da supervalorização da área profissional, por exemplo; prejudicando, dessa forma, os filhos que, vítimas desse não pertencimento, no presente; serão os reprodutores do modelo, amanhã, perpetuando, dessa forma, o paradiga familiar doentio.
As raízes familiares plantadas pelos pais são rasas demais para a construção de uma família completamente funcional, o que resulta num agrupamento de pessoas sob o mesmo teto, as quais se sentem pouco comprometidas umas com as outras, o que redunda em desarmonia e falta de entrosamento entre elas.
CONCLUSÃO
Nota-se, pelos poucos exemplos enumerados acima, que não apenas a semente do Reino deve ser plantada em solo preparado e fértil.
As nossas realizações humanas, empreendias ao longo da vida, nas mais diferentes e diversificadas áreas, também devem obedecer ao mesmo princípio.
Caso contrário, o que quer que venhamos a realizar terá sempre o cunho de raso, superficial e epidérmico; jamais chegando a ser profundo, essencial, necessário ou indispensável.
Portanto, assim como “pelo fruto se conhece a árvore”, da mesma forma, pela profundidade das raízes se conhecerá a qualidade da planta dela nascida.
Desenvolver laços que representem raízes profundas e saudáveis é, então, condição indispensável para uma vida melhor, mais produtiva e mais realizadora.
Que possamos atingir esse objetivo.
Tony Ayres