Aquele era de fato um homem admirável. Sua palavra era forte e cortante. Não transigia em seus princípios. Estampava em seu rosto uma fisionomia decidida e o estranho brilho de um cativante olhar de alguém que sabia que tinha uma missão a ser cumprida.
Não usava traje social nem roupa de grife alguma. Ao contrário, era muito simples. Decididamente, sua indumentária em nada contribuía para a sua imagem e comunicação.
No entanto, era carismático. Seus discursos atraíam multidões, que sorviam suas palavras penetrantes, assim como a esponja absorve a água.
Seus hábitos eram muito simples, por vezes, estranhos. Não freqüentava restaurantes famosos, nem comia em cozinhas suntuosas.
Seu alimento era sui gêneris, totalmente natural, considerado por muitos, esquisito até, e de mau gosto.
Mas dava-lhe uma enorme força.
Poderia escolher lugares badalados para fazer as suas disputadíssimas preleções. No entanto, escolhia os mais desertos.
Mesmo assim, as multidões acorriam para ouvi-lo.
Quiseram fazê-lo importante, achar-lhe um título nobre, torná-lo um líder, mas ele recusou tudo isso, terminantemente.
Ficaram curiosos, então. De onde provinha tanto poder nas palavras e tanta sabedoria? Seria um excêntrico sábio, vestido de uma "pele rude", a fim de resguardar sua identidade?
Criaram coragem e começaram a perguntar-lhe: "Você é um doutor?" "É um sociólogo?" "Por acaso, seria você um vidente sensitivo?" "É um antropólogo"? "Um cientista político, talvez?"
E assim as perguntas se multiplicavam. Mas a resposta a todas elas era, indefectivelmente, um retumbante NÃO.
Perderam, então, a paciência:
Decidiram, acabar com aquela curiosidade mórbida: "Se você não é nada do que julgamos ser, mas encanta-nos com as suas palavras, abra então o jogo: Diga-nos, de uma vez, que é você, afinal?"
Alguns momentos de silêncio, enquanto o seu olhar percorria a multidão. Finalmente, sua boca se abriu para dar a resposta que calou todas as outras:
"Eu sou a voz que clama no deserto".
Sim, querido leitor. Aquele pregador rústico e autêntico não reivindicou para si nenhum título de bispo, de apóstolo ou de profeta.Tampouco, púlpitos majestosos ou extensos horários na televisão.
Tudo o que ele queria era ser "uma voz que clama no deserto" e anunciar, em meio ao deserto, a chegada de seu Senhor.
Quando quiseram fomentar a inveja em seu coração, contando-lhe a respeito do "noivo", que, segundo eles, roubava-lhes os adeptos dele, que era "o amigo do noivo", respondeu, seguramente:
"É necessário que ele cresça e que eu diminua" (Jo. 3.30)
Sabia que a glória não era para si e sim para aquele de quem ele não se sentia digno de desatar as sandálias dos pés.
Compare a atitude deste homem com as atitudes de muitos "homens de Deus" que você conhece, hoje.
Sem dúvida, há de ficar claro para você porque a Igreja sofre tanto e você acabará por entender o que quis dizer Ghandi, depois de ter lido o Novo Testamento:
"Admiro o vosso Cristo, mas abomino o vosso cristianismo".
Soli Deo Gloria
Tony Ayres
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