07 junho, 2009

HOMENAGEM A UM HERÓI DA FÉ DE NOSSOS DIAS

Creio que um dos privilégios que a vida nos oferece é o de dar-nos amigos, que são mesmo "mais chegados que um irmão".

A história que vou contar aconteceu na vida de um desses amigos especiais. Vindo do interior, entrou na carreira militar ainda muito jovem.

O futuro se lhe apresentava muito promissor, dada à sua inteligência e ao calor humano que brotava de suas palavras. Chegaria a tenente? A capitão? Quem sabe a general?

Nunca pôde saber, pois Deus o convocou para um posto ainda de maior responsabilidade: o de Ministro do Evangelho.

Acompanhei sua carreira, pois, além de amigo, era jovem como ele. Tive o privilégio de conhecer a alegria das ovelhas que o tinham como pastor.

Tinha um imenso amor por todas elas e, por essa razão, era muito amado também. Mas o seu coração tinha ainda um chamado mais específico. E difícil de ser cumprido também: o de cuidar de crianças e adolescentes com desvio de conduta.

Iniciou o seu trabalho pela fé. Numa chácara cedida, com acomodações extremamente simples, sem salário e sem conforto algum, ao lado da jovem esposa e dois filhinhos pequenos (um menino e uma menina).

Passou a viver de pequenas contribuição, arrecadadas por jovens pastores amigos, nas igrejas onde visitava. Em breve, a instituição cresceu e já havia uma grande quantidade de internos, na ala masculina e na ala feminina.

Chegavam de todos os lugares crianças e jovens, autores de pequenos delitos, viciados em diversos tipos de drogas, desprezados e chutados pela vida; e naquele lugar recebiam carinho, amor, acolhimento e, principalmente, a ministração da Palavra de Deus.

Aos poucos, a instituição foi se estruturando. Chegaram novos irmãos colaboladores; novos monitores foram sendo formados, mas o trabalho sempre foi de fé. Do tipo "vamos orar hoje para que Deus nos dê a provisão de amanhã".

Foi quando a jovem esposa desse homem de Deus engravidou de seu terceiro filho. Ele preocupou-se, é verdade, pois não tinham convênio médico, não sabiam como seria o período pré-natal, nem onde a criança haveria de nascer.

Mas confiavam em Deus e isso lhes dava paz.

Um dia, durante o recreio esportivo, um dos pequenos acidentou-se, e precisou ser imediatamente socorrido. Meu amigo enrolou um pano em volta da perna sangrando da criança, colocou-a em seu velho Fiat-147 e rumou para o Pronto Socorro do Hospital mais próximo.

O médico que o atendeu, quando, desenrolado o pano, viu aquele ferimento profundo na perninha cheia de terra da criança, falou, de maneira irada: "Eu não vou tratar desse menino, com a perna suja como está!".

Meu amigo pastor olhou de relance para o jardim, à frente do Pronto Atendimento e vislumbrou, com o olhar, uma torneira, instalada ali para regá-lo.

Pediu licença ao doutor, tomou a criança pela mão e, sob o olhar atônito do médico, levou-a até aquela torneira, onde, como o bom samaritano da parábola, começou a lavar pacientemente o ferimento do menino, enxaguando sua perna de alto abaixo, deixando que o sangue e a areia escorressem livremente.

Quando viu que estava bem limpo, retornou com enino para o médico que, um tanto envergonhado de sua atitude, começou a suturar o ferimento. Como havia observado tudo, arriscou uma pergunta: "É seu filho? - as palavras lhe saíram da boca com um misto de curiosidade e de constrangimento.

"É sim, doutor, juntamente com mais de cem outros que tenho em casa para cuidar" - foi a resposta que ouviu de meu amigo. Só então ficou sabendo que estava cuidando do ferimento de um dos pequenos internos que fazia parte de uma família de mais de uma centena de outros "filhos" daquele "pai" que acabara de conhecer, de uma maneira não muito educada.

Ficou admirado. Mas o atendimento estava completo. Ferimento suturado, curativo terminado, recomendações de medicação entregue. Era hora de se despedirem.

Agora, já não havia nenhum resquício de ira ou mau-humor no olhar do doutor. Notava-se que ficara profundamente tocado com o acontecimento no qual acabara de ser um dos protagonistas. Foi com admiração que viu meu amigo, depois de agradecer-lhe sinceramente, sair com o menino do hospital.

Passaram-se alguns meses e o episódio foi praticamente esquecido, com as lutas do di-a-dia na educação e evangelização das crianças. Até que certa noite, já muito tarde, a jovem esposa de meu amigo começou a dar sinais inequívocos de que seu filhinho iria nascer.

Sempre confiando no Senhor, meu amigo conduziu-a até o mesmo Fiat-147 , ajudou-a a sentar-se e rumou para uma maternidade de um hospital público, orando para que tudo desse certo.

Qual não foi a sua surpresa com o que aconteceu logo em seguida. Enquanto providenciava a ficha de internação, preocupado com a passagem do tempo e a chegada eminente do bebê, eis que surge, com um largo sorriso no rosto, o mesmo médico que obrigara-o a lavar o ferimento de seu pequeno "filho" acidentado" no recreio esportivo.

"Mas, quem temos a honra de ter aqui?Então essa é sua esposa que vai dar à luz?" - disse o doutor, desta vez sem irritação, mas com genuína alegria a iluminar-lhe o semblante.

"Fique despreocupado, meu amigo, eu, PESSOALMENTE, farei o parto dela e, garanto-lhe, da melhor maneira possível" - arrematou.

Assim, o parto foi feito com todo desvelo e cuidado.

Meu amigo e sua esposa tiveram um tratamento magnífico e uma atenção toda especial. Mesmo sem ter um caro convênio médico, mesmo passando a aflição da incerteza (mas conservando a fé no cuidado do Senhor), mesmo nada possuindo, meu amigo e sua esposa possuíam tudo.

O Senhor providenciou a maneira certa, o tempo certo, o lugar certo e a pessoa certa, para que tudo saísse maravilhosamente a contento.

A esposa de meu amigo ganhou um médico para cuidar dela e meu amigo ganhou um novo amigo médico, a quem testemunhar!

"Mas, como está escrito:As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu,e não subiram ao coração do homem,são as que Deus preparou para os que o amam"(1 Cor 2.9).

Tony Ayres

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