06 fevereiro, 2010

Cristianismo, Ressentimento e Liberdade

ChristianManifesto-b Como um blogueiro cristão, não pude deixar de tomar conhecimento de alguns blogues que têm abraçado, através da filosofia de vida de seus editores, um cristianismo "libertário", no qual inexistem dogmas, inexistem certezas absolutas, inexiste inerrância das Escrituras e inexiste até mesmo a certeza de um Deus e de uma vida após a morte.

Esse tipo de cristianismo nega o objetivo de vidas de homens como Billy Graham, John Stott, Francis Schaeffer, Russel Shedd e tantos outros nomes respeitados pela Igreja da Pós-Modernidade e que, a despeito de todo o saber humano e a experiência de vida que obtiveram, jamais deixaram de ser humildes, transferindo toda a glória que poderiam auferir a Jesus Cristo, único Senhor de suas vidas.

LIBERDADE CONFUNDIDA

Mas estes modernos "sábios" da Blogosfera, ao contrário, são altivos e consideram a Bíblia apenas um livro de cultura judaico-cristã, absolutamente inútil para nortear as nossas vidas, por considerá-lo ultrapassado e sem nenhuma inspiração divina.

Assim, justificando toda a sua rebeldia pela formação "errada" que tiveram em sua infância e adolescência, insurgem-se contra todos e contra tudo o que aprenderam, dando um passo perigoso em direção à uma pretensa liberdade, cujo rastro firma-se claramente apenas no ódio e no ressentimento que nutrem contra a memória que têm de seus "ensinadores" da infância e da adolescência.

Na esfera do inconsciente (que eles imaginam consciente) ignoram a verdade psicológica de que, quando recalcamos uma atitude ou emoção, usualmente as compensamos, agindo ou assumindo uma atitude superficial exatamente no extremo oposto.

RESSENTIMENTO E AUTOCOMISERAÇÃO

Mas parece que esse blogueiros desconhecem que, na vida real, uma pessoa não se livra assim facilmente do ódio e do ressentimento do passado. Então, canalizam-nos para os outros (os ortodoxos) sem nem mesmo imaginar que, no final estarão canalizando-os contra si mesmos.

É evidente que, não apenas eles, mas todos nós vivemos as nossas repressões na igreja ou na família, em nossa infância. Mas, se agora, como adultos, não enfrentarmos abertamente o ódio e o ressentimento que trouxemos da idade infantil; cedo ou tarde, eles se transformarão num afeto que nunca fez bem a ninguém: a autocomiseração - que é a forma preservada desse ódio e desse ressentimento.

O EXEMPLO DE NIETSZCHE

Apenas para darmos um exemplo, Friedrich Nietszche sentiu, de modo amargo e profundo esse problema do ressentimento pois, apesar de rebelar-se contra a negação da liberdade, não conseguiu ultrapassar o estágio da rebeldia.

Filho de um pastor protestante, morto quando ele era ainda criança, educado de forma sufocante por parentes próximos, Nietszche padecia os aspectos coercitivos de seu background alemão. No entanto, estava o tempo todo, em luta contra ele.

Assim, sendo de espírito muito religioso (embora não dogmático), ele mesmo acabou percebendo o papel do ressentimento estampado na moralidade da sociedade. Proclamou, então, que o "ressentimento se encontra no âmago de nossa moral" e que "o amor cristão é um simulacro do ódio impotente".

Ora, qualquer um de nós, nos dias de hoje, pode ilustrar essa "moral" motivada pelo ressentimento, nos mexericos de corredor de qualquer pequena igreja evangélica. A despeito disso, essas pessoas continuam a fazer parte do corpo de Cristo e crêem na Bíblia, como a Palavra inspirada de Deus.

O que é preciso ficar claro é o fato de que ninguém pode chegar ao verdadeiro amor e à genuína moralidade; e, por via de consequência, à liberdade, antes de ter enfrentado francamente e vencido o seu próprio ressentimento, bem como o próprio ódio.

A VISÃO PSICOLÓGICA

O que pretendemos é, então, esclarecer que, do ponto de vista da psiquê, a única maneira de se conseguir a verdadeira liberdade é transformar esses sentimentos destrutivos em emoções construtivas, identificando-se claramente a quem se odeia, e exercendo o perdão bíblico.

O ódio e o ressentimento podem proteger temporariamente contra a liberdade interior. Porém, mais cedo ou mais tarde, será preciso utilizá-los para se conseguir a liberdade e a dignidade, senão destruirão a própria pessoa.

Não se pode, impunemente, confundir a revolta com a própria liberdade e o rebelde com um ilusório senso de independência.

A SAÍDA CONSCIENTE

É preciso alcançar-se um patamar onde é possível estabelecer novas bases para construir, pois, a verdadeira liberdade nunca é o oposto da responsabilidade.

A liberdade é o fruto da autoconsciência, que dá ao homem a capacidade de construir a própria evolução, sem renegar ou amaldiçoar seu passado e sem ferir a consciência de seu irmão.

Isso, sim, será um ato bílico e genuinamente cristão.

Soli Deo Gloria

Tony Ayres

2 comentários:

  1. Caro Tony

    Mais uma vez você, meu amigo, de forma clara e objetiva expôs como o ressentimento e o ódio são destrutivos.

    Não podemos renegar totalmente o nosso passado nem apagá-lo de nossa memória. Temos que entender que o superego é constituído por padrões e proibições absorvidos dos nossos pais e mestres.
    Quando éramos crianças temíamos perder a proteção e o amor dos nossos pais, se déssemos vazão desenfreiada às pulsões do Id.

    Conhecemos muito daquilo que a consciência permite e proíbe. No entanto grande parte dela é inconsciente e pode dar origem a um dos nossos problemas mais complicados e destrutivos, que é a “culpa Inconsciente”.

    “Não podemos nos insurgir contra todos e contra tudo o que aprendemos” ─ você muito bem frisou e completou de forma magistral no trecho que destaquei abaixo:

    “[...]insurgem-se contra todos e contra tudo o que aprenderam, dando um passo perigoso em direção à uma pretensa liberdade, cujo rastro firma-se claramente apenas no ódio e no ressentimento que nutrem contra a memória que têm de seus "ensinadores" da infância e da adolescência”.

    Se o ego intervém com competência não se metendo em encrencas com os seus dois mestres (superego e Id) interiores; se ele não reprime mais do que o necessário; se grande parte da sua energia está disponível para um viver alegre e saudável sem revoltas extremistas (que de forma inconsciente são dirigidas para o próprio sujeito), a pessoa pode escapar da neurose da qual grande parte vida “civilizada” é herdeira.


    Parabéns pelo seu significativo e providencial artigo,



    Um forte abraço do amigo de sempre,

    Levi B. Santos

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  2. Meu amigo Levi:

    Já tive o privilégio de deixar meu comentário em seu blog, consignando a minha convicção de que você é um psicanalista nato.

    Mas também um homem sábio, cheio daquela sabedoria que somente a experiência e a maturidade podem proporcionar.

    Tenho lutado por deixar explícito que a Bíblia é muito maior do que qualquer compêndio de Psicanálise e por mostrar que, como você sempre diz, o cristianismo pode conviver muito bem com aquela.

    Desconfio que, para você também, seja muito maior e mais importante o Judeu que nasceu em Belém, do que o judeu que nasceu na Morávia.

    Que ambos ainda possamos cre na oração:

    "Maranata, ora vem Senhor Jesus"

    Forte abraço deste seu amigo paulista.

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