29 janeiro, 2010

O Pastor e as Prostitutas

O INÍCIO

Tristeza São duas horas da madrugada. Uma densa nuvem formada pela neblina fria da noite de inverno envolve os prédios da grande metrópole de São Paulo. O cenário é a rua Augusta, onde as pessoas sobem e descem e os automóveis passam em baixa velocidade com os faróis e lanternas acesos, assim como estão acesos os olhos de seus condutores.

São olhos caçadores, que examinam ansiosamente as calçadas à procura de uma das dezenas de prostitutas que se exibem para seus clientes em parcas roupas, apesar do frio que as açoita.

Homens no cio, procurando por fêmeas diferentes, que possam satisfazer seus insanos desejos lascivos, em troca de dinheiro.

O JOVEM NA NOITE

No meio desse vai-e-vem, de repente, uma cena incomum: um homem de terno caminha pela calçada carregando uma pasta em uma das mãos, e um estojo de instrumento de sopro, na outra.

É ainda jovem. Tem, talvez, uns trinta anos de idade. Cabelos penteados para trás, bigodes bem cuidados e um olhar manso que atrai as mulheres da vida que não cessam de convidá-lo para um “programa”, a cada dez ou vinte metros.

Ele apenas sorri para elas e, sistematicamente; vai rejeitando os convites e seguindo adiante, rua Augusta acima.

Anda pela calçada pelo menos quinze minutos. De repente, pára diante de um prédio antigo, com coloridas letras de neon a iluminar-lhe o rosto. Fecha os olhos por um momento, como se estivesse numa atitude de oração. Em seguida, abre resolutamente a porta e encontra um ambiente repleto de fumaça, mesas com cadeiras acolchoadas por todos os lados, mulheres da vida bebericando taças de uísque em cada uma delas.

O "CLIENTE"

Atrai a atenção de todas, que enxergam nele mais um “cliente”. Algumas se insinuam tentadoramente, querendo prendê-lo e subir com ele as escadas que dão acesso aos “quartos”, onde realizam o seu “trabalho”.

Mas ele se desvencilha delas e caminha resolutamente até o bar, no fundo da sala. Todos os olhos se concentram nele, que coloca a pasta e o estojo sobre o balcão. Ele não diz uma palavra sequer. Apenas abre o seu estojo e dele tira um trompete, que começa a tocar, com maestria.

A SURPRESA

A música que entoa, contudo, surpreende a todos, no recinto. A melodia que enche o salão não é outra, senão o hino, conhecido pelos cristãos como “Foi Na Cruz”.

Imediatamente, os semblantes mudam. Uma atmosfera que é um misto de surpresa, incredulidade e espanto toma conta do lugar. As mulheres da vida, como que imobilizadas, ouvem a música, extasiadas. Algumas começam a chorar.

O homem termina de tocar e, ato contínuo, retira de sua pasta uma bíblia, abre-a e lê o texto de Lucas 7.37-50, a passagem que se refere à mulher pecadora que ungiu com ungüento os pés de Jesus.

Repentinamente, algumas prostitutas precipitam-se em direção a ele, gritando; exigindo, com palavras de baixo calão, que parasse de falar. Outras dezenas seguem-lhes o exemplo e arma-se uma confusão, como se a polícia tivesse chegado

A INTERVENÇÃO

- Deixem o moço pregar! – ecoa uma voz no alto das escadas.

Todas recuam, imediatamente, pois conhecem muito bem aquela voz e aquele tom autoritário.

É Madalena, a dona do lugar, respeitada e temida por aquelas mulheres. Ela, então, prosseguiu:

- Todos os homens que entram aqui vêm para comprar e desfrutar de seus corpos. Mas este veio trazer-nos um presente. O maior e o melhor presente que poderíamos receber – e voltando-se para o homem, disse-lhe:

- Pode continuar sua pregação, pastor, que todas o ouviremos.

O jovem pregador fala-lhes, então, sobre aquela mulher a quem Jesus perdoara, com uma unção que elas jamais haviam visto. Ao final, faz um convite, para que recebam Jesus como Salvador e Senhor.

A COLHEITA

Algumas dezenas de mulheres vêm ajoelhar-se chorando, atendendo ao apelo. Algumas confessam ser filhas de pastores ou presbíteros. São ovelhas desgarradas do aprisco, que não querem rejeitar a nova oportunidade. No centro de carpete onde elas se ajoelham, está também Madalena, chorando copiosamente.

O pregador estende as mãos em direção às mulheres e ora, em uníssono com elas, a oração do arrependimento.

Quando a oração termina, aquelas mulheres levantam-se com o olhar iluminado. Receberam, de fato, o maior presente de suas vidas.

Depois de orientá-las através de um breve discipulado, o jovem pregador guarda no estojo o seu trompete e, na pasta, a sua bíblia.

Sai pela mesma porta por onde havia entrado, faz uma breve oração de agradecimento, arruma seu cachecol ao redor do pescoço, e desce a Rua Augusta, desaparecendo em meio à neblina da madrugada

A FELICIDADE DO SERVO

Naquela noite, dorme feliz ao lado da esposa, em sua humilde cama.

Sabe que é muito rico e acabara de dividir com ovelhas perdidas, o seu imenso tesouro: Jesus Cristo, de Nazaré.

Conto de:

Tony Ayres

4 comentários:

  1. Muito bom seu blog!!
    Já está add na lista do meu!!
    Visite-me depois e se achar conviniente adicione-me também na sua lista. ;D

    www.amandoapalavra.blogspot.com
    Abraço,
    Fernando Martins

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  2. Bravo (três vezes) meu caro Tony!!!



    Que bela história saiu de tua pena, meu amigo! Se os evangelhos um dia pudessem ser reescritos ou reinterpretados, esta tua parábola seria a maior dentre as demais.

    Conseguiste trazer com maestria incomum, a pessoa de Cristo, na pele de um verdadeiro pastor e trompetista para o submundo das noites da rua Augusta e adjacências, onde pequeninas e pequeninos pecadores estão necessitando de ouvir a bela história de Cristo ao som de um trompete.

    O hino tocado ali não poderia ser outro, que o 15 da Harpa Cristã.

    Parabéns, meu caro Pastor e amigo, esse teu ensaio certamente ficará gravado nos corações de quantos o lerem.


    Levi B. Santos

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  3. Fernando:

    Já visitei o seu blog, que é muito bom e de grande utilidade. O post sobre Max Lucado é uma verdadeira pérola.

    Já adicionei você em minha página.

    Forte abraço!

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  4. Amigo Levi:

    Partindo de você, só posso acreditar na sinceridade de suas palavras, embora eu não as mereça.

    Mas, não me escapou à observação a sua expressão "pequeninas e pequeninos pecadores", que é, realmente, o que são estes pobres seres humanos.

    Os "grandes" pecadores, como você e eu sabemos, infelizmente, são hipócritas, e estão em nosso meio.

    Grande abraço deste amigo!

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