24 agosto, 2009

A Revolução Invisível

marco_moreira_mostraVI_01 Em psicanálise, quando tratamos de um paciente que não consegue perceber um problema, visível aos nossos olhos e, muitas vezes, visível à maioria das pessoas que o cercam, dizemos que tal paciente está egosintônico com o seu problema.

Nesse caso, temos que, antes de mais nada, trabalhar para que o paciente se torne egodistônico em relação a tal problema, para que possa passar a percebê-lo e seguir avante com o tratamento.

Essa situação ilustra muito bem a terrível revolução de valores que esta geração está atravessando sem perceber, simplesmente porque, embora a vivencie em toda a sua plenitude, não consegue enxergá-la, porque ela lhe é egosintônica, portanto, invisível.

COMO ESSA REVOLUÇÃO SE MANIFESTA?

Ela se manifesta através de uma crise que, em linhas gerais, apresenta os seguintes sintomas:

1. Inversão de Valores

Percebe-se nitidamente, na geração contemporânea, uma inversão de valores, em relação ao que ocorria há algumas décadas. O que era errado passou a ser certo e o que era certo passou a ser errado.

O que não se tolerava quando os pais de agora eram filhos adolescentes, é defendido agora como bandeira libertária, por esses mesmos pais, em relação a seus filhos, hoje adolescentes.

2. Quebra de Padrões Dicotômicos

Antes, tínhamos bem delineado o que era bom e o que era mau; o que era ético e o que era não-ético; o que era o bem e o que era o mal.

Hoje, existe uma ambivalência generalizada sem os referenciais antes existentes. Até mesmo as novelas de televisão e os filmes que são sucesso em Hollywood que, anteriormente, tinham bem definidos a figura do herói e do vilão, atualmente já não apresentam essa mesma dualidade.

Tanto o herói de hoje tem facetas de vilão; quanto o vilão de hoje tem características de herói. O bem e o mal foram amalgamados, formando um composto ambivalente, que constitui não apenas a casca, mas também a essência das pessoas.

3. Banalização da Vida

Antes, tinha-se mais respeito à vida. Hoje esse respeito banalizou-se, não somente nas clínicas de "aborteiros" e nas guerras entre gangues rivais de traficantes, mas também no quotidiano das pessoas comuns.

O desrespeito e a transgressão vulgarizaram-se ainda mais. Se fizermos uma pesquisa numa classe universitária, por exemplo, com a finalidade de sabermos quantas pessoas foram assaltadas, 80% ou mais levantarão a mão.

Mas o que foi roubado dessas pessoas não são apenas jóias ou grandes somas de dinheiro. Hoje, celulares, tênis, blusas, sapatos e até mesmo passes de ônibus ou metrô fazem parte desse repertório. E tudo isso é visto como "normal".

4. Visão de Mundo Como Projeção do "Si-Mesmo"

Antes, as cosmovisões ou "visões-de-mundo", diferentes para cada povo, cultura, sociedade ou segmentos das sociedades eram filosoficamente estudados, sabidos e respeitados.

Hoje, impera a lei do egoísmo e do egocentrismo. As pessoas enxergam o mundo como "um grande depósito de toda sorte de produtos", à disposição de seu desejo de consumo.

Em outras palavras, cada pessoa vê o mundo como uma grande projeção de si própria e julga-se no direito do "desfrute" total e irrestrito dele. Perdeu-se o espaço antes destinado à liberalidade e à compaixão pelo próximo.

CONCLUSÃO: AUSÊNCIA DE DEUS E VAZIO EXISTENCIAL

Cedo ou tarde, toda pessoa que vivencia uma revolução dessa magnitude, descobre que não é possível passar incólume pelas leis de natureza espiritual e psicológica.

Já vimos, em postagem anterior neste blog, que o sentimento moral (e por via de consequência, religioso) não foi dado por Moisés, no Monte Sinai. Ele já nasce com cada ser humano, constituindo parte importantíssima de sua psiquê.

É por essa razão que o homem não pode desprezar valores multimilenarmente acumulados, impunemente.

A célebre frase de Nietzsche de que "Deus está morto" nunca foi tão verdadeira quanto está sendo para a presente geração.

Cada homem ou cada mulher que eliminou Deus de sua agenda egoísta e materialista, implementando assim, a sua revolução invisível, paga por isso um preço incomum de frustração e de sofrimento.

Embalados pela falsa idéia de que são "livres" de regras ou de valores, são, na verdade, apesar de todo "desfrute", infelizes criaturas, sem Deus, imersas num imenso vazio existencial.

"Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem mal; que fazem das trevas luz, e da luz trevas; e fazem do amargo doce, e do doce amargo!" (Isa. 5.20).

Tony Ayres

OBSERVAÇÃO: a primeira foto deste post é de autoria de Marco Moreira,

marco@magelstudio.com.br

Nossos agradecimentos

7 comentários:

  1. Oi amado irmão Tony!

    Paz do Senhor Jesus seja contigo!

    Belo post este. Um dia destes eu e meu esposo estávamos conversando sobre como "as coisas" mudaram tanto em um tempo um tanto curto (uns 20 anos). Certamente a tecnologia tem responsabilidade nisso, ao menos um pouco.

    Muito obrigada pela indicação feita ao Blog dos Últimos! Eu copiei o selo e guardei aqui no meu note. Tenho muitos selos para colocar no blog e fazer as devidas indicações. Mas preciso de um tempo tranquilo para tal.

    Acredita, Tony, que somente na semana passada eu aprendi a fazer um nome de Blog funcionar como link? Afff..... como sou devagar com estas coisas... rsrsrsrs

    Fique com Deus, meu irmão! Seu blog é uma bênção tremenda, e consigo visualizar o quanto ajuda as pessoas que por aqui passam. Eu sou uma delas!

    Fique na paz, meu irmão!

    Em Cristo,

    Claudia Paiva (Claudia Sunshine)

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  2. Amado Tony,
    Quando estava lendo sua postagem me veio a mente exatamente Isaias, 5.20.
    Meu filho deixou um ensaio no nosso blog sobre “Deus, Um Delírio”, de Richard Dawkins, e lendo vc, me veio a emoção de que Deus continua preservando nossos filhos apesar das aulas de filosofia em que professores praticamente querem impor aos alunos a incredulidade a cerca de Deus.
    "Sem Deus tudo é possível..." Lembra?
    Agradeço a Deus por levantar homens como vc, com uma consciência cristã linda.
    Abraço amado do Senhor e agora meu tbm rsrsrs

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  3. Claudia:

    Já estava sentindo falta de seus comentários, por aqui. Que bom saber que você conversa com seu esposo sobre os assuntos que dizem respeito à vida cristã. Isso é muito importante na vida do casal.

    Agradeço-lhe por dizer-me que algumas das coisas que posto aqui tem servido para o seu aprendizado. Isso me deixa feliz.

    Um grande abraço para você e seu esposo!

    Em Cristo.

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  4. Pastora Guiomar:

    Obrigado pelas palavras generosas. Não sinto que as mereça, mas agradeço-lhe porque me parecem sinceras.

    Quanto aos nossos filhos, é realmente um privilégio saber que o Senhor os tem preservado com valores cristãos, em meio à uma sociedade que pouco liga para valores.

    Sempre um prazer tê-la por aqui.

    Em Cristo.

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  5. Prezado amigo Tony

    Excelente a sua reflexão.

    A psicanálise nos fez conhecer a relação íntima entre o complexo paterno e a crença em Deus, derivando daí o respeito a Sua autoridade.
    Mas, hoje, o que se apresenta no nosso cotidiano é o espetáculo de jovens perdendo a fé, no exato momento em que sobre eles desaba a autoridade do pai.

    Para que a civilização atual não nos engula, é preciso que a família seja mais uma vez reinventada.

    Graça e Paz,


    Levi B. Santos

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  6. Amigo Levi:

    Você tem toda a razão no que diz. Fui muito amigo do ex-capelão da antiga Penitenciária do Carandiru, aqui em São Paulo; e pude tomar conhecimento de centenas e centenas de jovens prisioneiros que haviam se tornado delinqüentes, embora nascidos num lares cristãos.

    O fardo das exigências descabidas por parte desses pais e de suas igrejas estava na raiz de tudo.

    Abraços.

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  7. Olá!
    A primeira foto deste Post é de minha autoria.
    A Publicação dela não foi autorizada.
    Favor entrar em contato para saber as condições de publicações desta imagem.

    Ou então para se previnir de quaisquer processos disponibilize no texto o crédito para "Foto: Marco Moreira" e um link para meu Flickr: http://flickr.com/marcomoreira

    Obrigado

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