O chamado “trauma do
nascimento” foi objeto de estudo do psicanalista vienense Otto Rank que, aliás,
como um de seus legados, deixou um livro escrito, exatamente com esse nome.
Opondo-se a Freud, de
quem foi discípulo por muitos anos, Rank passou a ver a origem das neuroses num
período da vida muito anterior àquele estabelecido por seu mestre, em sua
teoria psicanalítica.
Para Rank, portanto, a
ansiedade experimentada pelo indivíduo deriva do ato fisiológico do momento de
seu nascimento, visto como um instante traumático, pois, além dele passar por um sofrimento físico de desconforto
absoluto, sofre também a sua desvinculação do útero materno.
Essa ansiedade,
derivada do trauma do nascimento passa, então, a ser a gênese daquela sensação
de “vazio”, que, de uma forma ou de outra, acaba nos impelindo para a busca de
uma completude, que, para alguns, pode realmente ser encontrada, enquanto para
outros, permanece como uma eterna busca.
O certo, porém, é que,
no decorrer da vida, passamos a procurar por um “preenchimento” de nosso “vazio”
ou de nossa incompletude.
Via de regra, o remédio
para essa carência é o encontro de uma
certa sensação de aconchego, que reproduzirá e nós o que sentíamos com a
nossa mãe, na verdade, o nosso primeiro objeto de amor.
De acordo com o psicanalista Flávio Gikovate, “...em papeis antagônicos, o bebê e sua mãe sentem a mesma emoção: o amor entre ambos é recíproco, apesar de que um cuida e o outro é cuidado”.
De acordo com o psicanalista Flávio Gikovate, “...em papeis antagônicos, o bebê e sua mãe sentem a mesma emoção: o amor entre ambos é recíproco, apesar de que um cuida e o outro é cuidado”.
Ainda de acordo com o mesmo psicanalista, “...é interessante refletir sobre essa relação, pois a mãe, ao acolher e amamentar seu filho, também experimenta intensa sensação de aconchego!”
Essa espécie de “simbiose” entre mãe e filho, acaba se perenizando nas relações íntimas entre adultos, haja vista a repetição desse modelo: um parceiro é o que cuida mais enquanto o outro é quem recebe maior dose de cuidado.
Usualmente, aquele que cuida tem mais certeza de seus sentimentos. Já quem é cuidado tende a duvidar de quanto ama, exatamente em razão das vantagens que obtém, o que não deixa de ser interessante.
Em linhas gerais, na relação amorosa entre adultos, passa a vigorar, então, a seguinte regra: os que preferem ser cuidados, ao invés de cuidar, são emocionalmente mais imaturos e egoístas.
O ideal seria que nas relações amorosas entre adultos, os papeis se
alternassem: o homem seria, algumas vezes, o pai e, algumas vezes, o filho; e a
mulher, por sua vez, seria, algumas vezes, a mãe, e, algumas vezes, a filha.
Esse ideal não é tão difícil de ser alcançado e, quando de fato, o é,
temos, então, uma relação amorosa, ao mesmo tempo madura e aconchegante!
Antônio Tadeu