Desde que me tornei um psicanalista e, antes disso, quando era ainda um estudante, pude perceber que, a despeito de ser considerada uma ciência, a Psicanálise está longe de ser uma panacéia para entender e explicar todo o intricado processo que envolve o ser humano e seus problemas.
Na verdade, a Psicanálise é muito pequena diante do mistério da vida física; quanto mais se se tratar daquela que consideramos a vida espiritual. Freud debateu-se com ela a vida toda, que não foi curta (viveu entre 1856 e 1939) e reformulou muitas vezes suas teorias, dadas as inúmeras incertezas que pairavam sempre em seu espírito.
Digo isso porque, infelizmente, venho percebendo que alguns cristãos, ao descobrirem a Psicanálise, (mesmo a grosso modo) ficaram por ela tão fascinados que, aparentemente, tornaram-se céticos em sua fé; ou ateus como o seu descobridor (Freud).
Ora, essa fascinação pode ser entendida, uma vez que, lidando com o inconsciente, a Psicanálise lida também com o recalcado ou com o reprimido. Quando ela logra tornar consciente os conteúdos mentais inconscientes, promove como consequência, a liberação dos recalques e das repressões – o que, via de regra, é positivo, desde que a pessoa em questão saiba aceitar a sua nova realidade com equilíbrio e maturidade; e não com a mentalidade daquele que “achou o tesouro” no fim do arco-íris.
Creio que é exatamente nesse ponto onde mora a raiz do problema pois, por uma “falha piedosa”,a igreja chamada “evangélica” exagerou negativamente a ênfase na sua herança puritana, fazendo com que crianças e novos convertidos do século XX fossem doutrinados e vivessem uma vida de acordo com o modelo calvinista pós-medieval; o que provocou um surto de repressão de proporções endêmicas, não mais possível de ser suportado em pleno mundo pós-moderno da primeira década do século XXI.
Ora, com a popularização da Psicanálise, da Psicologia e da própria Psiquiatria (que foram os saberes nos quais os cristãos emocionalmente doentes foram buscar ajuda), os recalques vieram à tona como uma panela de pressão que explodiu; o que fez com que muitos deles se voltassem contra as suas igrejas. O passo seguinte foi rejeitar a Bíblia e seus ensinamentos e o abraçar da Psicanálise como a “ciência que promoveu a minha emancipação”.
É claro que essa atitude é um equívoco, uma vez que o indivíduo “liberto” das amarras da repressão religiosa reprime toda a sua vida anterior, caindo numa armadilha e trocando seis por meia dúzia, sem perceber. Ninguém pode ser feliz dessa maneira.
É preciso que essas pessoas repensem o que estão fazendo para, como diz Caio Fábio, “não abandonarem o Jesus ressurreto”, e não se deixarem enganar.
Freud descobriu a Psicanálise. E daí? Ela é só mais uma linha epistemológica.
Também a Psicologia Profunda de Carl G. Jung; a Epistemologia Genética, de Jean Piaget; a Psicologia do Desenvolvimento Individual, de Alfred Adler; a Fenomenologia, de Martin Heidegger; a Psicologia Existencial, de Rollo May e a Logoterapia, de Viktor Frankl, entre muitas, são algumas outras vertentes espistêmicas.
Não vale a pena trocar Jesus Cristo por nenhuma delas.
NEle, sob cujo poder todas as coisas permanecem.
Antônio Ayres